sábado, 31 de dezembro de 2011

Um Dia

David Nicholls
Intrínseca - 411 páginas

"...àquela altura os dois já haviam caído na frustrante familiaridade da amizade..." (página 31)

Quem nunca se apaixonou por um grande amigo e, de repente, ficou frustrado com a situação?

Aliás, que situação delicada esta: tentar arriscar algo mais e perder aquela amizade deliciosa ou deixar como está e sofrer com as consequências?

É por aí que se desenrola a trama de Emma e Dexter. Ou
Dex e Em. Em e Dex. Tanto faz.

Na noite de formatura, em 15 de julho de 1988, eles dormem juntos, se divertem muito e criam, de cara, um sentimento enorme um pelo outro. Seria amor? Um gostar muito? Mas, não engatam nenhum namoro, já que a amizade chega primeiro...

A partir daí, vemos o que acontece com eles em cada 15 de julho: os encontros e desencontros, os momentos que fogem, os momentos que voltam, as situações felizes que compartilham e as adversas... tudo de uma forma bem humorada e até sarcástica, em algumas vezes.

Impossível não se reconhecer em várias situações e rir em voz alta. Acontece. E, quando você pensa que o final chegou, aguarde. Tem muita coisa pra rolar, incluindo as lágrimas.

Trata-se de um romance moderno, gostoso de ler, difícil de largar, que vai provocar recordações intensas (ou quase) de fases da sua vida. Ah vai.

Boa leitura!

p.s ainda não assisti ao filme, baseado na obra, que está em cartaz nos cinemas, mas pelas cenas do trailer, entrega muito da trama. Por isso, não veja se pretende ler sem saber algo mais...

sábado, 24 de dezembro de 2011

A elegância do ouriço

Muriel Barbery
Companhia das Letras - 350 páginas

O que significa essa "elegância do ouriço"?
É alguém que "...por fora, é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas (...) dentro é tão simplesmente requintada quanto aos ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes." (página 152)

Essa é a descrição que Paloma Josse, uma garota superinteligente de 12 anos, faz da sra Reneé, a zeladora do prédio onde mora.

Toda a trama se passa no número 7 da Rue de Grenelle, prédio luxuoso, onde moram famílias ricas e tradicionais. O vai e vem de cada morador, as manias e a rotina do prédio é narrada ora por Reneé, ora por Paloma.

Reneé é a zeladora (concierge) de 54 anos, que trabalha lá há quase 30. Viúva, mora com seu gato Leon e esconde sua erudição sob uma capa de pessoa ranzinza e bronca.

Paloma é uma estudante que decide se matar em breve. Não suporta as frivolidades da irmã e da mãe, nem as atitudes do pai. A vida para ela não tem sentido.

Um dia, porém, um novo morador se instala no prédio e faz brotar no coração dessas mulheres algo novo e admirável. Algo poético...

Contar mais vai entregar o melhor do livro.

O final é de uma beleza absurda e faz chorar até o mais durão dos corações.

Boa leitura!

"Pois existe distração mais nobre, existe mais distraída companhia, existe mais delicioso transe do que a literatura?"

sábado, 26 de novembro de 2011

O Grande Gatsby

F. Scott Fitzgerald (1896-1940)
Penguin - Companhia das Letras


"Era um desses sorrisos raros que tem em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida." (página 62)


Esse sorriso era de Jay Gatsby, um homem que dava belas festas em sua mansão em West Egg, para pessoas que nem sabiam direito quem ele era.


A obra é ambientada nos anos 20, pós Primeira Grande Guerra e ilustra a vida da pacata West Egg, cidade do leste norte-americano.


Misterioso, cercado de lendas e rico, pouco se sabia da vida de Gatsby. Então, Nick Carraway, o narrador da história, se torna seu vizinho e começam uma amizade.


Aos poucos Nick vai conhecendo esse homem, de onde viera sua fortuna, e porque se mudara para lá.


Gatsby ama uma mulher, Daisy, que é prima de Nick e mora do outro lado da baía.  Quando jovens, Gatsby e Daisy tiveram um romance mas, com a guerra, seus mundos tomaram rumos diferentes. Agora, ela está casada com Tom Buchanan, um homem rico e prepotente, que possui uma amante. Todos na cidade sabem disso, inclusive sua esposa. O casal tem uma filhinha de 3 anos e vive numa bela mansão, numa vida de aparências.

É nesta casa que Nick conhece Jordan, uma esportista um tanto arrogante, e logo começam um romance, que é tratado de forma casual na narrativa.


Um dia, uma tragédia acontece e os destinos de todos se cruzam de forma cruel e reveladora. Falar mais é estragar o final, justamente a melhor parte do livro.


Por ser um clássico, esperava mais da trama. A narrativa, apesar de simples, possui momentos que te deixam sem explicação, e fica meio truncada. A história não traz nada tão inovador, mas tem o mérito de retratar a sociedade da época e seus costumes.

Não vejo a hora de sair a versão cinematográfica com Leonardo DiCaprio como Gatsby, Tobey Maguirre como Nick e Carey Mulligan como Daisy. Mas isso, só está previsto para ocorrer em janeiro de 2013...

Boa leitura!

sábado, 19 de novembro de 2011

A Sombra do Vento

Carlos Ruiz Zafón
Editora Objetiva - 400 páginas

"... nós existimos enquanto alguém se lembra de nós." (página 143)

Quer perder o fôlego com um romance que tem uma boa dose de mistério, uma bela história de amor (aliás, mais de uma), toques de humor e ironia, além de ser muito bem escrito? Então você pode começar pela obra desse espanhol, que já vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares no mundo todo.

Tudo começa quando Daniel, então com 10 anos, é levado pelo pai ao Cemitério dos Livros Esquecidos para escolher uma obra. Lá o garoto se depara com o livro "A Sombra do Vento", de um autor desconhecido, Julián Carax e o leva para casa.

A leitura flui de uma só vez e o garoto, filho de um livreiro, começa a investigar a vida desse autor. Ele descobre que Julián vendeu poucos livros, morreu jovem e que alguém se encarrega de queimar os poucos exemplares sobreviventes. O livro que ele possui em mãos, portanto, é uma raridade e está sob ameaça.

Os anos vão passando e Daniel aprende o que é amar uma garota, o que lhe garante grandes momentos de ternura, apreensão e dor. Mas, enquanto resolve sua vida sentimental, ele não desiste de procurar mais informações de Carax, ainda mais depois de contar com a ajuda de Fermín, novo funcionário da loja de seu pai.

Coisas misteriosas começam a acontecer, conforme Daniel descobre o passado de Julian Carax e sua vida, agora, corre perigo.

Mais que um romance de mistério, essa obra é uma homenagem ao mundo dos livros:

"Os livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos por dentro."

O cenário é Barcelona e a história (de Carax e Daniel) se passa na época da guerra civil espanhola e no pós guerra. Os personagens e as histórias paralelas são ótimas e toda a trama é bem amarrada.

Enfim, é pegar e não largar.

Boa leitura!

domingo, 13 de novembro de 2011

Confesso que Vivi

Pablo Neruda (1904-1973)
Ed Bertrand Brasil - 414 páginas

"Não era possível fechar-me em meus poemas, assim como não era possível tampouco fechar a porta ao amor, à vida, à alegria ou à tristeza em meu coração de jovem poeta." (página 63)

Quem ama poesia um dia já leu e se emocionou com alguma poesia de Neruda. Batizado Neftali Ricardo Reyes Basoalto, mudou de nome ainda jovem para encobrir suas publicações, já que seu pai "não concordava em ter um filho poeta". Escolheu o nome ao acaso, de uma revista, sem saber que se tratava de um grande escritor tcheco.

Tornou-se diplomata muito jovem e foi cônsul na Birmânia, Ceilão, Java, Cingapura, Espanha e México. Presenciou a guerra civil espanhola, ajudou refugiados espanhóis, embarcando-os para o Chile. Foi senador da República no Chile e chegou a se candidatar à presidência, quando renunciou da candidatura em favor de Allende. Ganhou inúmeras condecorações, homenagens e afins, sendo que em 1971 veio a ganhar o Nobel de Literatura

Essas e outras curiosidades estão nesse livro autobiográfico, datado de 1973, ano de sua morte.

Casou 3 vezes e teve uma filha (Malva), que veio a falecer aos 8 anos. O interessante é que na narrativa ele fala apenas de Matilde, a última esposa. Das 2 primeiras, nada comenta, nem da morte da filha. Ficamos sabendo disso na cronologia que aparece no final do livro. Pra quem viveu de poesia, poderia ter dedicado algumas palavras a esses fatos mas, talvez fossem questões dolorosas que ele não quis mexer. Vai saber...

Quanto à política, podemos dizer que foi a segunda paixão do poeta. Comunista, fala de Prestes, Fidel, Jorge Amado e de seu envolvimento mundo afora na luta por um mundo melhor. Claro que ele também fala de suas decepções (Stálin, pela "degeneração de sua personalidade" e de Mao Tsé-tung pela "substituição de um homem por um mito").

Conta como suas poesias mais conhecidas surgiram, como foram inspiradas, onde foram lidas. "Que desperte o lenhador", por exemplo, surgiu no seu regresso à Índia e ganhou o Prêmio da Paz.

Das pessoas mais simples (como os mineiros chilenos) aos grandes reis, ele sempre foi apreciado e respeitado.

Neruda foi um homem intenso:
"Sou onívoro [devoro tudo] de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas. Comeria toda a terra. Beberia todo o mar."

Viveu, amou, sonhou, desejou:
"Quero viver num mundo em que os seres sejam somente humanos sem outros títulos a não ser estes, sem serem golpeados na cabeça com uma régua, com uma palavra, com um rótulo."

[Eu também, caro poeta, eu também...]

Vale a pena a leitura!

domingo, 30 de outubro de 2011

Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil


Leandro Narloch
Leya - 368 páginas

"...um bom jeito de amadurecer é admitir que alguns dos heróis da nação eram picaretas ou pelo menos pessoas do seu tempo. E que a história nem sempre é uma fábula: não tem uma moral edificante no final nem causas, consequências, vilões e vítimas facilmente reconhecíveis (...)
Esse livro não quer ser um falso estudo acadêmico (...) e sim uma provocação." (página 27)

Amava estudar história no colégio, mas sempre achava a receitinha pronta: os índios estavam bem aqui e foram praticamente aniquilados pelos portugueses maus; um bom governo era aquele que sempre buscava o bem dos menos favorecidos e bla bla blá...

Nesse livro, recheado de referências bibliográficas, o autor procura mostrar o outro lado da moeda, de forma bem humorada e desafiadora.

Vamos começar pelos índios.
Sabia que eles queimavam as florestas por aqui e foi preciso que os portugueses criassem leis ambientais para o território brasileiro já no século 16?

Quanto aos vícios, podemos dizer que houve uma "troca": os portugueses trouxeram o álcool para os índios, mas levaram o tabaco para a Europa.

Sabia que "símbolos nacionais" como a banana, a jaca, a manga, a laranja, o limão, a carambola, a graviola, o café, o coco, entre outros, na verdade foram trazidos pelos portugueses? Não eram nativos.


E o que dizer dos negros no período colonial?
Se você não sabia que Zumbi tinha escravos e que ex-escravas também compravam suas escravas, não fique chateado, muita gente não sabe até hoje.

Quer mais?
Machado de Assis era censor do Império;
José de Alencar foi contra a abolição;
Jorge Amado defendeu Hitler e Josef Stálin (glup!);
Graciliano Ramos não via futuro no futebol no país (ele disse que "o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil")

Aliás, "até a década de 1930(...) o samba, a feijoada, a capoeira, o futebol não eram ícones da identidade nacional." Ulalá...

O autor ainda pega no pé dos acreanos ( e do custo desse estado para o país ), de Aleijadinho (atribuem tanto a ele!), de Santos Dumont ( que não inventou o avião. Nem o relógio de pulso) e dos comunistas ( responsáveis por "saques, estupros, assassinatos e outras atividades que deixavam a população aterrorizada". Sem falar que Prestes teria ordenado a morte de uma jovem de 16 anos, Elza, em 1936).

E aí, está pronto para ser provocado?

Boa leitura!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Eu

Ricky Martin
Planeta - 300 páginas

"eu havia me tornado especialista em esconder emoções." (página 71)

Sim, eu era fã do grupo Menudo. #prontofalei
E tinha uma queda especial pelo Rickinho, o caçula do grupo, quando a febre estourou no Brasil.

Sabia as letras das músicas de cor, em português, inglês e espanhol e a coreografia das músicas também. Só quem viveu a infância nos anos 80 sabe o que esse grupo causou na América Latina e no mundo: um rebuliço.

Por isso, quando um amigo (obrigada Wesley!) me ofereceu esse livro emprestado, não hesitei em aceitar.

Nesta biografia, escrita precocemente aos 38 anos de idade, Ricky se abre com coragem: fala da infância feliz em Porto Rico, do amor à música desde pequeno, da entrada no Menudo, da loucura dos shows, das viagens, da disciplina aprendida desde cedo, do conflito interior em se sentir deslocado no mundo, da busca espiritual, da decisão em assumir-se homossexual e, por fim, da paternidade via barriga de aluguel.

O capítulo que fala da paternidade dos gêmeos Matteo e Valentino, aliás, é emocionante. Ele se derrama em elogios ao pequenos e demonstra um amor incondicional.

Para ele, tudo aconteceu na hora certa, como tinha que ser.

O autor/ator/cantor também fala como nasceu a decisão de fazer filantropia e ajudar crianças que são vítimas de tráfico. Ele ajudou pessoalmente nos desastres do tsunami na Tailândia em 2004 e no terromoto do Haiti em 2010, por exemplo, lutando para evitar a exploração de menores em situações tão terríveis quanto essas.

Enfim, essa é, no mínimo, uma leitura interessante - ainda mais se você chacoalhou os ossos ao som de "Não se reprima" quando criança.

sábado, 8 de outubro de 2011

O Amor

André Comte-Sponville
Martins Fontes - 120 páginas


"...o amor é o tema mais interessante (...) qualquer outro tema só tem interesse à medida do amor que temos por ele."


Um amigo me apresentou esse filósofo francês maravilhoso que, a despeito do ateísmo, fala do amor como um verdadeiro cristão.


Ao falar do amor, ele recorre ao grego e evoca eros, "o amor-paixão"; philia, o amor da amizade, no sentido mais amplo, de amar quem está mais perto; e ágape, o amor como caridade.


Mas seria o amor a falta de alguma coisa que se deseja (Platão)? E quando se consegue o que se deseja, o amor é o mesmo?


Não, não é.


Se seguirmos Schopenhauer para responder, cairemos no tédio, se seguirmos Espinosa, transbordaremos na potência do sentimento. Ou se formos na linha de Aristóteles, iremos nos regozijar pela simples existência do ser amado.


Difícil definir quem tem razão...


Na verdade, todos têm, na medida que a vida afetiva é composta de pólos (falta/tédio x potência/prazer/alegria), cujos sentimentos transitam nas diversas esferas.


Um casal feliz é "...o casal que soube transformar a falta em alegria, a paixão em ação, o amor louco em amor sereno: é um casal que, em vez de cair de Platão em Shopenhauer, subiu de Platão a Aristóteles, de Platão a Espinosa."


Ao falar do amor ágape, ele diz que a caridade "trata-se de consentir em existir um pouco menos, para que o outro possa existir um pouco mais."


O amar sem nada em troca é divino:


"ama a ti como tu és, isto é, como qualquer um, e verás que será possível amar qualquer um como a ti mesmo."


Muito já se falou do amor, mas sempre encontramos bons motivos para continuar lendo e, principalmente, vivendo esse amor em suas várias esferas.


Boa leitura!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Há graça no sofrimento?


Antonino Pinho Ribeiro (Pr Nino)
Imprensa da Fé - 122 páginas

"Sentir dó é ser passivo, mas quando temos compaixão tomamos uma atitude." (página 103)

Depois de ouvir o pastor Nino falar dos seus 20 anos dedicados à capelania hospitalar, percebi o quanto não fazemos nada pelo próximo que sofre.

Quanta gente está sofrendo em hospitais, com dores físicas e emocionais, abandonadas pela família, passando necessidades?

A boa notícia é que Deus capacita pessoas como o pastor Nino, que está a frente deste trabalho tão lindo, para trazer alívio ao que sofre e ao chora no Hospital São Paulo, Hospital do Rim e Hipertensão, GRAAC e Instituto Dante Pazzanese.

Neste livro, Nino conta algumas experiências e desafios diários, explica o que a capelania hospitalar pode fazer pelo doente e pela família e qual a atitude correta ao abordá-los.

Além disso, separa dois capítulos para dar voz a duas pessoas que passaram pelo hospital São Paulo: Shirlei, sua esposa, que é portadora de Lupus e Denise, mãe de Daniel (uma criança que nasceu prematura com hidrocefalia).

"...não me preocupo em decifrar os desígnios de Deus, aprendi que as dificuldades são para serem vencidas, passo a passo." [Denise]

"O Senhor não escreve certo por linhas tortas. Ele escreve nossa história da melhor forma, mesmo que no momento pareça que está tudo torto..." [Shirlei]

Eu, que já passei por uns bons dias em hospitais, sei que a vida com dor não é fácil. E quando se está fora de casa, sob os cuidados de terceiros, dependendo de medicação forte, fazendo exames a toda hora, e sendo furado até virar peneira, posso afirmar que só pela misericórdia de Deus é que temos forças para prosseguir.

O que o pastor nos mostra é que apesar da dor, do sofrimento, há também paz, livramentos, vitórias, aprendizados.

A graça de Deus está presente, de forma constante e sublime.

Que possamos ser gratos pela saúde que temos e que possamos, acima de tudo, ser alívio para aqueles sofrem.


Boa leitura!


"Tente excluir a possibilidade do sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre-arbítrio envolvem, e descobrirá que exclui a própria vida." C.S.Lewis

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não nascemos prontos! Provocações Filosóficas

Mario Sérgio Cortella
Vozes - 134 páginas


"estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento." (página 12)


O filósofo e educador Cortella nos presenteia com 31 pensatas sobre temas diversos: satisfação, felicidade, tempo, esperança, tristeza, resignação, nostalgia, tecnologia, sabedoria, destino, entre outros.


O objetivo não é chegar a uma conclusão, mas questionar o que se pensa. É indagar os porquês. É fazer com que cada um perceba que a vida se faz a cada dia, que ninguém está pronto.


"Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta e vai se fazendo."


Enquanto estamos vivos, que tal cuidar das coisas que verdadeiramente são importantes?


"E se fosse isso perder a vida: fazermos a nós próprios as perguntas essenciais um pouco tarde demais?" Gilbert Cesbron


" O tempo não é só passagem; é, também, esgotamento, restando para muitos apenas alguns horizontes de perplexidade tardia."


Mas podemos gastar o tempo com o ócio?


"Ócio não é falta do que fazer, mas possibilidade de, nas condições apresentadas, fazer a escolha lúdica do que se deseja sem constrangimento ou compulsoriedade."


Ao discorrer sobre a amizade, ele separa as que ocorrem por força das circunstâncias e as reais:


"...poucas são as relações interpessoais que fogem ao utilitarismo das afetividades simuladas. Cada vez mais temos amizades fugazes, com data de validade restrita."


"a felicidade de um amigo deleita-nos, enriquece-nos, não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe." Jean Cocteau


Mas, e a felicidade, é possível ser feliz?


Ao citar Beda, ele diz: "...o sucesso está na generosidade mental (ensinar o que se sabe), na honestidade moral (praticar o que se ensina), na humildade inteligente (perguntar o que se ignora)."


Dica: se você acha que no dia que conquistar seus sonhos será feliz e estará satisfeito, nem leia esse livro. A acomodação não combina com a busca ininterrupta do procurar saber mais, sonhar mais, viver mais.


Viver é buscar, com esperança.


"Esperançar é se levantar, é ir atrás, é construir, é não desistir, é levar adiante, é juntar-se com outros para fazer de outro modo."


Afinal, quem fica parado é poste, né Zé Simão?


Boa leitura!

sábado, 17 de setembro de 2011

O símbolo perdido

Dan Brown
Sextante - 489 páginas

"Existe um mundo escondido por trás do que todos nós vemos." (pág 445)

Esse é o mote desse livro de Dan Brown, aliás de todos os livros dele.

O professor de simbologia Robert Langdon está de volta, num thriller de perder o fôlego, desta vez em Washington, em meio aos mistérios maçônicos.

Seu amigo Peter Solomon foi sequestrado por um maluco, que faz ameaças de morte, caso Robert não decifre um grande segredo maçônico. Segredo este que lhe dará um poder sobrenatural.

Corrida contra o tempo, símbolos em toda parte e um psicopata torturador à solta. Os ingredientes são os mesmos de Anjos e Demônios, com a diferença de local e propósito.

No começo, até empolga, mas depois fica mais do mesmo.

Vale pela forma como a história é conduzida, com suspense. Mas só. Restam as fábulas e alucinações.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Contra um mundo melhor


Luiz Felipe Pondé
Ed Leya - 216 páginas

"Somos escravos da felicidade, mas é a infelicidade que nos torna humanos. Não sou dados a acessos de culpa, mas experimento cotidianamente o tormento de minha humanidade. Sou fraco, submetido ao desejo desorientado, leio e escrevo como forma de combater a solidão do mal que me habita" (pág 65)

Cético, trágico, alguém que enxerga um abismo à sua frente e sente um vazio dentro de si. Não é dado a jantares inteligentes (em que todo mundo é perfeito, feliz e sem conflitos) e tem medo de pessoas muito felizes.

"O que nos humaniza é o fracasso."

Esse é Pondé, alguém que abandonou a faculdade de medicina no 5º ano para se dedicar à filosofia. Mas avisa: "Não façam igual; eu tive sorte!" (Fórum Cristão de Profissionais - 13/9/2011)

Nesse livro, ele expõe em 32 capítulos suas ideias filosóficas acerca da sociedade, da religião, dos sentimentos (reais x artificiais), das buscas de cada um e do sentido da vida.

"O cotidiano é um massacre."

"A culpa me encanta. Sem ela não há vida moral plena."

Sim, ele prefere a culpa, a miséria da alma, a dor, a vulnerabilidade, do que a aparência de eterna felicidade.

"A infelicidade é a lei da gravidade que reúne os elementos que compõem nossa personalidade. O fracasso é que torna o homem confiável."

Estamos diante de um ateu sem esperança?

Aposto que não.
Primeiro, porque ele reconhece a existência de Deus
"... para conhecer a Deus é necessário que o homem recupere a capacidade de ver seu vazio".

E, depois, porque parece haver uma luzinha de esperança nesse caos de desilusão.

"Reconhecermo-nos pó é a chave para sair da cegueira (...) Temos que ir ao deserto para ver Deus."

"...sensação de que o mundo é sustentado pelas mãos de uma beleza que é também uma presença que fala (...) Vejo esta beleza contemplar meu vazio."

Minha oração é para que essa beleza que te contempla, amigo, inunde seu coração com a plenitude de Cristo e transborde do amor de Deus em sua vida. Lembra do que te disse quando peguei seu autógrafo ontem?



Boa leitura!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Obra Poética II - Poemas de Alberto Caeiro


Fernando Pessoa
L&PM Pocket - 141 páginas

"Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu..." (página 84)

Sempre pensei em Pessoa como um ser confuso, místico, triste e perturbado, que encontrou na escrita um alívio para a dureza da vida.

"Não tenho ambições nem desejos. Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho."

Por outro lado, sempre que li textos impactantes, encontrava lá a assinatura dele, ou de algum heterônimo seu. Não tinha como não ler e...não gostar!

Será que é porque "as coisas não tem significação: tem existência"?
A beleza da escrita existe por si só e não precisa de ninguém para defendê-la?

Caeiro é o heterônimo do homem simples, pastor do campo. É o poeta da natureza, que vê na realidade das coisas, a explicação para tudo, por isso não liga para filosofias ou religiões.

"A cor das flores não é a mesma ao sol, de que quando uma nuvem passa ou quando entra a noite..."

Para ele "pensar é estar doente dos olhos" e não há mistério no mundo para se perder tempo pensando.

"E os meus pensamentos são todos sensações."

O que me inquieta nesse heterônimo é justamente o paradoxo do seu estilo de vida e seu pensamento, pois quanto mais eu contemplo a natureza, mais me espanto com seus mistérios e com a grandiosidade de Deus.

"Sentir é estar distraído."

Talvez na ânsia de sentir a natureza, ele tenha se distraído e, por isso, não enxergou o grande Criador de tantas maravilhas. Talvez.

Boa leitura!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

À beira do apocalipse


Tim Lahaye & Craig Parshall
Thomas Nelson Brasil - 417 páginas

"...ela aprendia uma importante lição sempre que se defrontava com os desafios da vida que eram de tirar o fôlego ou assustadoras. Nessas situações, as opções eram bem claras: agir com fé ou ser governado pelo medo." (pág 125)

Joshua Jordan criou uma tecnologia chamada RTS (retorno ao remetente), que "devolve" ao emissor qualquer míssil nuclear disparado. O sistema estava em fase de aprovação pelo governo dos EUA, quando 2 mísseis são disparados de um navio norte-coreano. Destino: Nova Iorque.

Não há tempo para se pensar muito e o RTS é acionado para defender o país, explodindo o navio emissor.

A partir daí, Joshua e sua família não têm mais sossego: o governo nega que havia autorizado o disparo, a mídia só divulga o que o governo permite e Joshua tem de acionar seus advogados e amigos para se defender perante a Justiça.

No outro lado do Atlântico, Atta Zimler (o assassino nº 1 na lista de procurados pelo FBI), recebe uma tarefa: conseguir todas as informações do RTS. O valor do pagamento é alto e ele não teme em deixar rastros de sangue por onde passa.

Joshua não sabe, mas corre perigo. E sua esposa (Abigail) e filhos (Debby e Cal) também.

Os capítulos da trama são curtos, bem amarrados e te prendem do começo ao fim.

A abordagem é cristã e mostra como as profecias bíblicas se cumpriram até hoje e como, hipoteticamente, podem vir a se cumprir daqui pra frente.

A globalização está aí e tudo caminha para o fim. Teremos sabedoria em interpretar os sinais?

Boa leitura!



sábado, 13 de agosto de 2011

Acontece a cada Primavera


Gary Chapman e Catherine Palmer
Editora Mundo Cristão - 300 páginas

"Se um dia desses pararmos para dar mais atenção às mulheres e passar mais tempo com elas, vamos saber exatamente o que elas esperam de um homem."
Steve Hansen (página 276)

Imagine uma cidadezinha do interior do Missouri (EUA) chamada Tranquility, com seus habitantes bondosos e bonachões, onde reina a paz.

Será que reina mesmo?

Brenda e Steve estão casados há 25 anos, tem 3 filhos, uma boa casa e um excelente padrão de vida. Ele é corretor de imóveis e ela é dona de casa. Tudo é muito certinho, até que um dia ela se descobre infeliz pela ausência do marido. Ele, por sua vez, se descobre infeliz pelo distanciamento da esposa. Um culpa o outro pelo fracasso da relação.

A cidadezinha tem ainda um pequeno centro comercial, onde fica o salão de cabeleireiros de Patsy Pringle, chamado Assim Como Estou. Lá as mulheres se reúnem não apenas para se embelezar,  mas também pra conversar e tomar um chá no anexo.

Esther, Ashley e Kim são algumas dessas mulheres que revelam seus problemas e medos, e procuram ajudar umas às outras com carinho, dedicação e sem esperar nada em troca.

O cotidiano da cidade é retratado fielmente e parece mesmo que você conhece cada um dos habitantes descritos e que já andou, inclusive, com Steve pelas redondezas, visitando várias casas para comprar.

Para estragar esse "lirismo bucólico", surge nas redondezas um rapaz sem teto chamado Cody, que amedronta a todos. Quem é ele? O que quer? Cody vira assunto na região.

O ponto fraco do livro é que a trama demora para engrenar e, quando isso acontece, o livro já está quase no fim.

O ponto forte, porém, está na busca das soluções dos problemas em Deus. Está em ter uma vida cristã autêntica, que ora, procura se aconselhar, testemunha, intercede, ama ao próximo com atitudes, etc.


Apesar de tratar de situações complicadas (adultério, doença em família, abandono de incapaz etc), achei um pouco ingênua algumas soluções encontradas, assim como o tempo e a forma com que foram superadas.


É utópico pensar que todos os nossos amigos agirão como os habitantes de Tranquility e que mesmo nós seremos sempre tão altruístas, mas fica o desafio de seguirmos o exemplo de Jesus.

Agora, se você mora nessa cidadezinha tão adorável, sorte sua.  Se aparecer algum problema, saiba que uma boa parte dela vai se mobilizar por você, ah vai!

Boa leitura!

domingo, 7 de agosto de 2011

Exodus


Leon Uris
Record - 606 páginas

"Toda a minha experiência me diz que os judeus não podem ganhar [a guerra]. Mas, quando se vê o que eles fizeram com essa terra, a gente é obrigada a crer em milagres." Bruce Sutherland (página 456)

Uma amiga querida, a Alê, me emprestou esse livro e, logo de cara, vi que não era um livro qualquer.

Apesar de ser um romance, os fatos históricos narrados aconteceram de fato: as duas grandes guerras, o genocídio de milhões de judeus, a dispersão dos judeus pelo mundo, a declaração do Estado de Israel.

Os personagens, porém, foram criados para dar vida e voz a um povo que sempre lutou para existir na terra de seus ancestrais e ver seus filhos crescerem segundo os mandamentos de Deus.

Nesse sentido, quando lemos sobre Ari Ben Canaan, Kitty Fremont, Karen Clement, Dov Landau, David, Akiva, Barak e tantos outros personagens da trama, aprendemos a enxergar o dilema palestino com outros olhos. Aprendemos a enxergá-lo sob a ótica de quem teve sua casa tomada, sua família massacrada, seus direitos usurpados, mas que ainda confia num Deus que tudo pode, que ainda luta por sua terra e por sua história.

É impossível não se emocionar com a saída do navio Exodus para Palestina (lotado de crianças a bordo), com as histórias dos campos de concentração, com as perdas diárias...

Na verdade, cada página traz emoções fortes, sofridas e intensas. Haja coração.

Boa leitura!

domingo, 24 de julho de 2011

Eu sou o mensageiro

Markus Zusak
Ed Intrínseca - 318 páginas

"Às vezes as pessoas são bonitas. Não pela aparência física. Nem pelo que dizem. Só pelo que são." (pág 199)

Ed Kennedy é um jovem de 19 anos, taxista, que mora sozinho com seu velho cachorro fedorento, Porteiro.

Leva uma vida simples, beirando a mediocridade, que se resume em trabalhar e curtir um joguinho de cartas com os amigos mais chegados: Marv, Ritchie e a bela Audrey, por quem é apaixonado desde sempre.

Sua vida muda quando, após render um ladrão azarado no banco em que estava, vira notícia regional. A partir daí, ele começa a receber umas mensagens estranhas pelo correio, escritas em cartas de baralho.

Primeiro, recebe um Ás de ouros, com três endereços grafados. Depois desta, outras cartas se seguem, com novos enigmas.
O que fazer? Quem estaria por trás daquilo? Por que ele fora o escolhido?

Aos poucos, Ed vai conhecendo novos personagens e muita coisa acontece. Para os outros mas, principalmente, para ele.

Quem já leu "O dia do Curinga" de Jostein Gaarder, terá um pequeno deja vú, por causa da temática das cartas e do estilo de narração (cheia de suspense e humor, apesar dos problemas que surgem pelo caminho).

Vale a pena a leitura, especialmente nos dias de hoje, em que olhar para o próximo é algo tão incomum. 


"É inegável como a verdade pode ser brutal às vezes. Só dá para admirá-la."

sábado, 11 de junho de 2011

Se eu fechar os olhos agora


Edney Silvestre
Record - 303 páginas

"Queria falar, mas não apenas a boca seca o impedia. As palavras que buscava flutuavam rápidas demais, impossíveis de serem pegas, como balões ziguezagueando ao vento furioso." (pág 185)

As palavras fogem, o tempo passa, mas as recordações passadas na infância ao lado de um bom amigo ficam. As boas e as ruins.

Assim foi para Paulo e Eduardo. Dois garotos de 12 anos que encontraram o corpo de uma jovem loira, em um lugar ermo da pequena cidade em que viviam.

Paulo era moreno, baixo, tinha orelhas de abano, morava com o pai e o irmão e, invariavelmente, falava alguma coisa na conjugação errada. Eduardo o corrigia e o ensinava. Era mais alto, vivia com a mãe costureira e o pai ferroviário.

Os garotos, curiosos, decidiram investigar o crime pois o principal suspeito era o marido, dentista idoso, que não teria forças para cometer sozinho brutal assassinato.

O dentista confessa mas, mesmo assim, eles não se convencem e partem para a investigação, com ajuda de Ubiratan, um velho morador de um asilo que, nas horas vagas, pula o muro do local e passeia pela cidade.

Esse trio faz descobertas terríveis e, de uma hora para outra, veem o rumo de suas vidas mudarem de direção.

A leitura é agradável, apesar do exagero da linguagem chula em certas ocasiões. Sabe quando soa desnecessário?

O melhor fica para os diálogos dos garotos: o autor captou bem a fase de transição da infância para a adolescência e a contextualizou na época descrita: abril de 1961.

A história é interessante, bem contada e tem um final comovente. Vale a pena conferir.

Boa leitura!

Anjos e Demônios

Dan Brown
Sextante - 461 páginas

Trata-se da primeira aventura do famoso professor de simbologia de Harvard, Robert Langdon, em busca de uma perigosa arma, feita de antimatéria, escondida em algum lugar do Vaticano.

Paralelamente a isso, um assassino misterioso, que ressuscita a lenda dos Illuminatti (seita anticristã) ameaça a vida de 4 clérigos, através de pistas que te levam a conhecer Roma de ponta a ponta.

Ao misturar ciência (no caso, física) e religião (pra variar, o catolicismo), o autor já demonstra seu ponto de vista polêmico, que explodiria tempos depois no controverso Código da Vinci.

Ideologias à parte, vale pelas reviravoltas da trama.

Boa leitura!

p.s. no cinema, a história perdeu muito o ritmo alucinante, mas Tom Hanks encarnou perfeitamente o quase-astuto professor Langdon:

terça-feira, 24 de maio de 2011

Corpo Cindido

Rita Schultz
Sulminas - 384 páginas

"Inspiração? Bom, eu acho que é quando Deus manda um pensamento para o nosso coração." (página 28)

Então, essa autora mineirinha é inspirada (e que delícia de romance que ela escreveu)! E como é, sô!

O cenário: as fazendas de café de Minas, com seus casarões, seus empregados, suas belezas naturais. A perfeição. Ou quase.

Um dia, o amor aparece de uma forma não convencional, e ao mesmo tempo que desperta o melhor de cada um, evidencia também o desespero daqueles que não podem/não conseguem correspondê-lo.

É impossível não se apaixonar pela doce Mistral, a menina morena do Tio Fabio, criada na fazenda como um pássaro e que aprecia a leitura de bons livros.

A menina, aliás, um dia cresce e conhece um rapaz igualmente belo, inteligente e...que a ama. E a respeita. Ele é Camilo e logo percebe um certo perigo no ar, mas releva em nome do amor.

A vida, então, mostra um lado dolorido, sombrio, cruel e o fim do poço dura a eternidade de 3 longos anos.

É possível recomeçar? É possível ser feliz depois que as trevas se dissipam? E as marcas do coração, como ficam?

"Sabia muito bem quebrar espinhos. Só não sabia como vencer a dor..."

Para quem curte um bom romance, vai se deleitar!

Boa leitura!


Advertência: leia com calma, pois o tempo voa!
 "...podiam-se ouvir os suspiros do tempo passando, passando..."

sábado, 14 de maio de 2011

Confissões

Santo Agostinho
Coleção Folha – Livros que mudaram o Mundo (vol 12) – 250 páginas
 O tempo não descansa, nem rola ociosamente pelos sentidos: pois produz na alma efeitos admiráveis.” (página 59)
O livro é dividido em 2 partes: na primeira, Agostinho conta detalhes de sua vida desde a infância: suas influências, seus planos, as pessoas com quem conviveu e seu processo de conversão.
dominava-me um pesadíssimo tédio de viver e um medo de  morrer.  (ao falar da morte do melhor amigo na juventude)
Na 2ª parte, ele reflete sobre grandes temas da existência humana: o que é a memória? E o tempo? Como explicar a trindade divina? E a criação? Quem é Deus? O que é a paz?
O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei, se quiser explicá-lo a quem me fizer a pergunta, já não sei.”
Agostinho foi um grande homem, no sentido de ter pleno domínio das palavras, conhecer bem tudo o que acontecia ao seu redor (e estamos falando do século IV da nossa era) e de reconhecer a grandeza e poder de Deus.
Sua biografia, porém, nos inquieta. Viveu cerca de 15 anos com uma mulher, teve um filho (Adeodato) com ela , mas não oficializou o casamento. Antes, foi prometido em casamento, por sua mãe, à outra pessoa -  criança ainda -, mas teria de esperar  quase dois anos para chegar à idade núbil” (ou seja, até ela ter 12 anos).
Nesse período, ele se afastou dos  maniqueístas (seita que misturava cristianismo com as doutrinas de Zoroastro) e se aproximou do catolicismo, para grande alegria de sua mãe Mônica e desistiu do casamento.
A mãe, aliás, teve grande papel na vida do autor e ele dedica grandes trechos de sua obra a ela.
Por fim, Agostinho deixou a oratória e aulas de lado e abraçou o celibato, o catolicismo e uma vida dedicada a exaltar a Deus.
São quatro as perturbações da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza.
Não é a vida humana sobre a terra uma tentação contínua?
Sua vida pode não ser um exemplo em muitos sentidos – e o abandono da mulher é o maior deles –, mas é inegável a contribuição do seu pensamento para nós até os dias de hoje.

Boa leitura!

Passo muitas coisas em silêncio, porque tenho pressa.
Eu também; eu também...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Última Música

Nicholas Sparks
Ed Novo Conceito - 383 páginas

"A vida, entendeu, era bem parecida com uma música. No começo, há mistério, e no final confirmação, mas é no meio que reside a emoção e faz com que a coisa toda valha a pena."

Ronnie é garota de 17 anos que mora em NY com a mãe e o irmão, Jonah (de 10 anos) e, 3 anos depois de ficar sem falar com o pai, vai passar as férias de verão com ele na Carolina do Norte, na praia de Wrightsville.

Ela não perdoa o pai por ter abandonado o lar e ido morar sozinho. Por isso, as coisas que faziam juntos, quando ela era pequena, agora a irritam. Uma dessas coisas é tocar piano. Seu pai, Steve, era professor da renomada Julliard e Ronnie herdou o talento do pai. Chegaram a compor músicas juntos, mas isso foi num passado remoto que, agora, ela faz questão de esquecer.

Em Wrightsville, Jonah se diverte com o pai: solta pipa, faz a nova janela da igreja, corre na praia. Mas Ronnie não. Com raiva do pai, evita ficar em casa, comer com eles e se irrita sempre que ouve o som do piano. Por isso, ela decide ficar o máximo possível na rua. Então, conhece Blaze, uma garota meio gótica, que tem más companhias, a começar pelo namorado jogador de "bolas de fogo".

Mas, conhece também Will. Um jogador de volei de praia que, acidentalmente, derruba refrigerante em sua blusa no 1º dia no novo local. Ódio e amor começam a andar lado a lado e... Não vou contar mais para não perder o encanto da leitura.

Só digo que, a partir daí, a trama se desenvolve de uma forma hipnótica. Temas como relacionamento entre pais e filhos e a importância da fé em Deus são abordados de uma forma fácil, sem moralismo, apenas baseado no amor.

Na minha opinião, é melhor que Querido John e fica no empate com Um Momento Inesquecível.

Vale a pena a leitura!

obs: Não vi o filme, estrelado pela queridinha da vez, Miley Cyrus. Mas vou colocar na minha listinha para ver com a Bia, minha sobrinha. Ela vai gostar!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Não me abandone jamais

Kazuo Ishiguro
Companhia das Letras - 344 páginas

"...é preciso ter em mente que, naquela fase da vida, qualquer lugar além de Hailsham era, para nós, uma terra de fantasia; tínhamos uma noção muito vaga do mundo exterior e do que era ou não era possível lá fora." (pág 85)

Três adolescentes cresceram em Hailsham, na Inglaterra dos anos 90, com uma missão que eles próprios desconheciam. Seus nomes: Ruth, Tommy e Kathy.

As travessuras, as descobertas, a relação com os amigos e com os professores (chamados de guardiões) são narradas por Kathy, já adulta, agora uma "cuidadora".

Não é possível falar mais da trama sob o risco de estragar a surpresa do livro, mas posso dizer que aborda um tema delicado, de uma forma tocante. Será que, um dia, essa ficção pode se tornar real? Frio na barriga.

A tradução não ajuda muito, usa palavras que destoam do contexto e termos não muito usados no cotidiano ("de modo que" é uma constante, chega a irritar!), mas não compromete o interesse pela trama.

Enfim, trata-se de uma leitura comovente, que fará cada um pensar no rumo desse mundo.

Boa leitura!

p.s. Sei que saiu um filme, mas ainda não tive a oportunidade de ver para tecer comparações:

sábado, 9 de abril de 2011

O outro pé da sereia

Mia Couto
Companhia das Letras - 331 páginas

"O encantamento é uma casa que tem o silêncio por teto." (pág 227)

Encantada, essa é a palavra que melhor define meu estado de espírito ao ler essa obra, presente de um grande amigo poeta.

Resumir a história é reduzir o sentimento que o livro desperta, mas vamos lá:

Mwadia Malunga é casada com Zero Madzero e vive em Antigamente, local desabitado e ermo de algum lugar de Moçambique. Um dia, o casal encontra a imagem de uma santa às margens do Rio Mussengui. Orientada pelo curandeiro local, Mwadia parte para sua cidade natal (Vila Longe) para achar uma "moradia" adequada à santa.

A viagem de Mwadia, as lembranças, as histórias do povoado e de sua família são recheadas de lirismo, poesia, fantasia.

O estilo de escrita por ora nos lembra Gabriel Garcia Márquez, especialmente nos sonhos e devaneios dos personagens, no modo de filosofar e no comportamento inusitado dos protagonistas. Aqui também um personagem come flores, tal qual Florentino Ariza em "O Amor dos Tempos do Cólera", mas com outra finalidade.

Além da história de Mwadia, nos dia atuais, Mia intercala os capítulos com a história da viagem missionária de D. Gonçalo da Silveira, em janeiro de 1560, de Goa (ìndia) à Monomotapa (Moçambique). O objetivo dele e do padre que o acompanha era converter o imperador ao cristianismo. Na nau também havia uma santa (seria a mesma encontrada anos depois?) e escravos. Muita coisa, aliás, acontece nos dias em que ficam em alto mar.

Enfim, não é uma obra para se ler às pressas, querendo achar sentido em tudo, mas para se ler com calma e com a alma, aproveitando cada gota de lirismo e poesia.

Boa leitura e ...boa viagem!

"A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores." (pág 65)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Um Momento Inesquecível


Nicholas Sparks
Editorial Presença - 155 páginas

"...tudo o que eu consigo recordar daquele momento foi que, quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez, eu sabia que a recordação iria durar para sempre." (pág 113)

A primeira vez que assisti o filme "Um Amor para Recordar" (baseado nesse livro), chorei. A segunda vez, chorei também e a terceira...chorei.

Agora, ao ler essa edição portuguesa, o resultado não foi diferente...

Trata-se da história da certinha Jamie Sullivan, filha do pastor Hegbert, que se apaixona por um colega de escola não tão certinho assim...

Ele é Landon Carter. Para tentar provar que é bom em alguma coisa, Landon decide se inscrever nas aulas de teatro da escola e é escolhido para contracenar uma peça de Natal emocionante com...Jamie, claro!

No começo, ele se irrita com o jeito dela de querer só fazer o bem, andar com a Bíblia para cima e para baixo etc. Sem falar que os amigos passaram a fazer gozações com sua nova "namorada".

Landon reluta em admitir seu amor, mas quando cai em si descobre-se apaixonado por Jamie.

Tudo seria perfeito se... bom, quem não leu, precisa ler e não vou estragar a história, mas aviso: leve uma caixa de lenços junto!

O filme tem a mesma trama, apesar de inserir gostos/desejos de Jamie, que não constam no livro (como fazer uma tatoo ou ter um telescópio para ver as estrelas) e de excluir suas visitas constantes ao orfanato local. Mas, ambos, conseguem emocionar...e muito!

Boa leitura!

p.s. quem quiser ver um trechinho do filme, segue um link com a parte em que Jamie canta na peça de Natal.


sexta-feira, 25 de março de 2011

Pégasus e o Fogo do Olimpo

Kate O´Hearn
Editora Leya - 294 páginas

"A guerra chegou ao Olimpo. Não houve aviso." (pág 7)


Pégasus fugiu de uma guerra no Olimpo e foi seguido por Paelen, um ladrão Olímpico, que só queria roubar as rédeas douradas do garanhão alado para se dar bem na vida.  Porém, no meio da invasão do inimigo no Olimpo, os dois são atingidos por um raio e caem na Terra semi inconscientes. Paelen vai parar num hospital de uma agência governamental secreta e vira experimento em testes de laboratório. Seria ele um alienígena?

Pégasus, por sua vez, cai no terraço de um grande edifício em Nova Iorque, onde mora Emily, uma garota de 13 anos. Ela mora lá com o pai (policial Steve) no último andar e ouve um grande barulho, num dia em que cai uma grande tempestade. Ao checar o motivo, descobre Pégasus e decide cuidar dele com a ajuda de seu amigo Joel, italiano conhecedor da mitologia romana.

Tudo estaria perfeito se não surgissem seres estranhos de quatro braços (os Nirads) que querem destruir Pégasus e seus amigos.

Mas...qual é o motivo? Quem são eles? O que aconteceu com o Olimpo?

A partir daí, eles precisam fugir, lutar pela sobrevivência do grupo e tentar salvar o mundo mítico e o mundo real.

A aventura é bem elaborada, tem um ritmo legal, e é mais linear que as do Rick Riordan. Além disso, tem poucos personagens e se ambienta apenas em Nova Iorque. Não há grande viagens, reviravoltas e surpresas.

Os chavões estão presentes (crianças que perderam os pais, ou um deles, por exemplo), mas a forma como a narrativa é conduzida (intercalando capítulos com a situação de Pégasus e a de Paelen) consegue segurar o leitor.

Boa leitura!

domingo, 20 de março de 2011

A Vida Humana

André Comte-Sponville
Martins Fontes - 104 páginas

"...ninguém vive sozinho: toda vida humana supõe outras, que a geram, que a educam, que a acompanham, que cruzam com ela, que a perturbam, que a fortificam, contra as quais se apóia ou se opõe, se define ou se busca." (pág 68)

Para você o que é a vida humana? O resultado da criação divina ou fruto do acaso?
Para o ateu Spoville, a resposta é óbvia, mas as reflexões que ele faz acerca das diversas etapas da vida, por alguns momentos, parece sair da boca de um cristão.

"Como não pensar no Antigo e no Novo Testamento? É o que há de belo nessa religião (...) que Deus tenha uma família, que ele seja tambérm filho" (pág 52)

Como bem disse meu amigo Laion Monteiro (que tem um blog lindo!), "Em alguns momentos da leitura, pensei comigo: Ou esse cara é cristão e não sabe ou eu sou ateu e ninguém me disse".

É claro que, aquilo que ele não pode explicar, como o que existia antes da vida na terra e o que nos aguarda no porvir, ele prefere deixar em aberto: "Por que existe alguma coisa ao invés de não existir nada?" 

Mas ao falar das fases da vida como nascimento ("ninguém nasce livre, torna-se livre");  infância ("...é um milagre e uma catástrofe"); adolescência ("...é um mistério e uma promessa"); morte ("não é problema, nem para os vivos, nem oara os mortos") ele esboça reflexões profundas, que nos levam a ver a maravilha que é a vida humana.

Ele exalta o prazer de viver e a coragem que é viver.


"Que tristeza seria viver apenas para não sofrer!"

Impossível discordar disso...

"É o amor que vale, já que é só por meio dele que existe valor. É o amor que faz viver, pois só ele torna a vida amável."

Pois então, meu caro amigo, há cerca de 2 mil anos Paulo já escrevia a mais bela definição de amor, conforme capítulo 13 de I Coríntios:
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor."  (versos 1, 4-7,13)

Minha oração é para que o autor venha conhecer um dia a origem desse amor em Jesus.

Boa leitura!