Pablo Neruda (1904-1973)
Ed Bertrand Brasil - 414 páginas
"Não era possível fechar-me em meus poemas, assim como não era possível tampouco fechar a porta ao amor, à vida, à alegria ou à tristeza em meu coração de jovem poeta." (página 63)
Quem ama poesia um dia já leu e se emocionou com alguma poesia de Neruda. Batizado Neftali Ricardo Reyes Basoalto, mudou de nome ainda jovem para encobrir suas publicações, já que seu pai "não concordava em ter um filho poeta". Escolheu o nome ao acaso, de uma revista, sem saber que se tratava de um grande escritor tcheco.
Tornou-se diplomata muito jovem e foi cônsul na Birmânia, Ceilão, Java, Cingapura, Espanha e México. Presenciou a guerra civil espanhola, ajudou refugiados espanhóis, embarcando-os para o Chile. Foi senador da República no Chile e chegou a se candidatar à presidência, quando renunciou da candidatura em favor de Allende. Ganhou inúmeras condecorações, homenagens e afins, sendo que em 1971 veio a ganhar o Nobel de Literatura
Essas e outras curiosidades estão nesse livro autobiográfico, datado de 1973, ano de sua morte.
Casou 3 vezes e teve uma filha (Malva), que veio a falecer aos 8 anos. O interessante é que na narrativa ele fala apenas de Matilde, a última esposa. Das 2 primeiras, nada comenta, nem da morte da filha. Ficamos sabendo disso na cronologia que aparece no final do livro. Pra quem viveu de poesia, poderia ter dedicado algumas palavras a esses fatos mas, talvez fossem questões dolorosas que ele não quis mexer. Vai saber...
Quanto à política, podemos dizer que foi a segunda paixão do poeta. Comunista, fala de Prestes, Fidel, Jorge Amado e de seu envolvimento mundo afora na luta por um mundo melhor. Claro que ele também fala de suas decepções (Stálin, pela "degeneração de sua personalidade" e de Mao Tsé-tung pela "substituição de um homem por um mito").
Conta como suas poesias mais conhecidas surgiram, como foram inspiradas, onde foram lidas. "Que desperte o lenhador", por exemplo, surgiu no seu regresso à Índia e ganhou o Prêmio da Paz.
Das pessoas mais simples (como os mineiros chilenos) aos grandes reis, ele sempre foi apreciado e respeitado.
Neruda foi um homem intenso:
"Sou onívoro [devoro tudo] de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas. Comeria toda a terra. Beberia todo o mar."
Viveu, amou, sonhou, desejou:
"Quero viver num mundo em que os seres sejam somente humanos sem outros títulos a não ser estes, sem serem golpeados na cabeça com uma régua, com uma palavra, com um rótulo."
[Eu também, caro poeta, eu também...]
Vale a pena a leitura!
Ana,
ResponderExcluirPra mim, Neruda é o maior dos que já li.
Um beijo,
Laion