terça-feira, 4 de outubro de 2016

O sol é para todos

Harper Lee (1926-2016)
Ed José Olympio - 364 páginas

"Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela." (Atticus, página 43)

Pensa num livro encantador: é esse! Não só pela beleza que é conhecer a história da família Finch sob o olhar da filha caçula (Scout, de 6 anos), mas porque mostra a simplicidade da vida, apesar dos estragos que a maldade humana faz.

Scout é o apelido de Jean Louise, uma garotinha que no início do livro tem 6 anos e mora com o irmão Jem (4 anos mais velho), o Pai Atticus e a babá negra Calpúrnia numa cidadezinha do Alabama chamada Maycomb, no início de 1930. A vida na cidade gira em torno da lavoura, numa época que negros e brancos tinham funções e tratamentos distintos. As igrejas, inclusive, agiam do mesmo modo: havia as congregações do brancos e as dos negros.
Atticus é um advogado branco que foi chamado para defender a causa de Tom Robinson, um pai de família negro, acusado de estuprar uma mulher branca. Atticus é um homem equilibrado, decente e estudou com detalhes a situação, indo até as últimas consequências pra defender Tom. Nesse caminho, porém, muitas pessoas da cidade se voltam contra a família Finch, inclusive as crianças.
O pai as chama de lado, conversa e explica a situação: nem todos entendem a postura dele, mas ele estava fazendo o certo, defendendo um homem no seu direito.

"Ainda que tenhamos perdido antes mesmo de começar, não significa que não  devamos tentar." (pág. 102)

A causa podia parecer perdida, as pessoas falarem, as crianças sofrerem bullying na escola, mas era o correto a ser feito.

Scout sempre ouviu e respeitou o pai, mesmo discordando de muita coisa como por exemplo, o fato dela ter de ir pra escola, no primeiro ano. Era chato ter de ficar quieta na classe pra não "atrapalhar" as demais crianças, a pedido da professora. As artimanhas, aliás, que ela usa pra não ir mais na escola são hilárias e te cativam pela ingenuidade. Não são raras as vezes que Atticus sorri diante dos dilemas da sua filha pequena, a abraça e a consola.

Quando não está na escola, Scout está brincando com Jem e Dill (sobrinho da vizinha) no quintal ou estão tentando descobrir um pouco mais do vizinho estranho que mora a poucas casas da residência deles e nunca sai de lá: por que o maluco do Boo Radley faz isso? Como aguenta viver anos sem sair pela porta, que seja?

Enfim, a vida de criança de Scout e Jem nos três anos que se seguem se confronta com a vida dura de adultos amargurados por causa da cor de pele uns dos outros. Scout não entende o racismo já que sua babá, uma segunda mãe, é negra e tem por eles um amor incondicional.

Ah, se o mundo pudesse aprender a viver com o olhar de Jean Louise: um olhar puro, doce, encantador...

"Olha, Jem, eu acho que só existe um tipo de gente: gente." (pág. 283)

O livro é lindo demais e já se tornou um dos melhores que li na vida, sem sombra de dúvida! E, por isso, a leitura é mais que recomendada: é obrigatória!