terça-feira, 21 de abril de 2015

Antologia de Poetas Evangélicos

Ebenézer Soares Ferreira (Organizador)
Editora Ultimato - 144 páginas

"A vida é livro sagrado,
tem lições que nos convêm;
seja, pois, livro estudado:
leituras que façam bem."
(Antonio de Campos Gonçalves - página 22)

Amo poesia!
Amo me envolver com as palavras, com os sentimentos que ela produz em mim e fiquei feliz de saber que alguém reuniu poesias cristãs num livro.

São poesias de escritores antigos, conhecidos (como Giógia Júnior, Carlos Nejar, Affonso Romano de Sant´Anna) e de autores novos, contemporâneos (como Mateus Santiago). 

Falam de saudade, da solidão, da morte, da dor. Falam da igreja e do Criador. Falam do ser pai/mãe, falam de amor e falam de preces e orações. Enfim, falam da Vida, pra quem a conhece em Jesus.

Boa leitura!


sexta-feira, 3 de abril de 2015

a máquina de fazer espanhóis

valter hugo mãe
Cosac Naify - 256 páginas

"não a posso deixar aqui sozinha. não estaria sozinha. estaria sozinha de mim, que é a solidão que me interessa e a de que tenho medo." (página 14)

valter hugo é um escritor angolano, que optou por abolir as maiúsculas de sua obra por acreditar que todas as palavras são igualmente importantes e, por isso, merecem o mesmo tratamento. Portanto, ao ler a sua obra, você terá um certo estranhamento inicial, mas logo passa com o arrebatamento do teor dessas palavras.

Nesse livro, ele fala da terceira idade e fala também de morte. O que é envelhecer? Como as pessoas ao nosso redor enxergam os idosos e como eles se veem? 

"porque envelhecer é tornarmo-nos vulneráveis" (pág. 22)

Antonio Jorge da Silva é um barbeiro de 84 anos que perde sua esposa (Laura), num leito de hospital. Sua dor é narrada com sensibilidade e maestria pelo autor:

"estávamos escondidos de todos, eu e a minha mulher morta que não me diria mais nada, por mais insistente que fosse o meu desespero, a minha necessidade de respirar através do seu sorriso. eu e a minha mulher morta que se demitia de continuar a justificar-me a vida e que, abraçando-me como podia,  entregava-me tudo de uma só vez. e eu, incrível, deixava tudo de uma só vez ao cuidado nenhum do medo e recomeçava a gritar. (...) esse é o limite, a desumanidade de se perder quem não se pode perder.  foi como se me dissessem, senhor silva, vamos levar-lhes os olhos e perderá a voz, talvez lhe deixemos os pulmões, mas teremos de levar o coração, e lamentamos muito, não lhe será permitida qualquer felicidade de agora em diante." (pág. 21)

Sua filha, então, decide colocá-lo em um asilo:

"o lar da feliz idade, assim se chama o matadouro para onde fui metido." (pág. 51)

Ele vai para lá triste e decepcionado, se sentindo descartado no fim da vida, mas aos poucos faz amigos no lugar. Entre eles está o Esteves sem metafísica, personagem da poesia de Fernando Pessoa em A Tabacaria (*) que agora está para completar 100 anos! Há também o Anísio dos olhos que brilham, o outro Silva, o senhor Pereira, e os outros idosos, que perfazem sempre 93 internos, sem contar o Américo (funcionário), o doutor Bernardo e os demais funcionários.

"éramos velhos tolos a trazer da tolice uma promessa de vida qualquer." (pág. 76)

Antonio tem uma raiva dentro de si, e se perturba para dormir, já que vive tendo pesadelos com pássaros que lhe atacam. Não crê em Deus, nem nos santos, apesar de simpatizar com a imagem de Fátima, a qual chama de Mariazinha com as pombinhas, pela companhia que esta lhe faz. E tem a angústia como companheira constante.

O livro tem trechos duros, mas também tem o lado humano, da amizade e cumplicidade e do amor.

Vale a pena a leitura!




(*) Aquela que começa assim:
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Leia na íntegra aqui!