segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Memória de elefante

António Lobo Antunes
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 158 páginas

"...onde, desde sempre, passeara a sua solidão, porque pertencia à classe de pessoas que só sabem sofrer acima dos seus meios." (página 86)

Nosso protagonista é médico psiquiatra, trabalha em um hospital e lida diariamente com as loucuras de seus pacientes e dos parentes destes.

Enquanto relata o seu cotidiano, devaneia sobre sua vida, sua infância, seu casamento fracassado. Aliás, nem ele mesmo sabe dizer realmente porque se separou, já que ama a ex-mulher e as duas filhas:

"Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita..." 

Ele reconhece que está envelhecendo:

"Cada vez mais detestava emocionar-se: sinal de que envelheço...

"...vamos entretanto partindo aos pedaços, por frações, o cabelo, o apêndice, a vesícula, alguns dentes, como encomendas desmontáveis...

E, mesmo assim, se vê sem coragem para confessar seu amor e retomar o rumo da felicidade da vida:

"...procurava sem sucesso reconstruir dias de que conservava uma memória de felicidade difusa..."

Por fim, fica a pergunta: será que a felicidade só existe na memória?

Boa leitura!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ensaio sobre a lucidez

José Saramago (1922-2010)
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 368 páginas

"Um impossível nunca vem só." (página 233)

É dia de eleição e, ao invés das coisas transcorrem normalmente, desde o começo parece haver algo errado. Em primeiro lugar, quase ninguém aparece para votar. Depois, quando está quase para acabar o horário, filas se formam para esse fim.

O que mais surpreende, porém, é que mais de 70% dos votos apurados estão em branco e, numa 2a eleição, esse índice salta para 83%!

Os ministros se reúnem com o 1º ministro e o presidente: qual o motivo de tal disparate? Por que isso aconteceu?

Então, chega ao conhecimento deles o conteúdo de uma carta, relatando que na época da cegueira a que todos foram acometidos há 4 anos, uma mulher não apenas continuou a ver, como cometeu um assassinato.

Pronto! O bode expiatório apareceu e, agora, o ministro do interior delega a 3 policiais, sendo um deles o comissário chefe, a tarefa de conseguir uma história plausível para essa situação, com provas reais ou não.

"...os que mandam não só não se detém diante do que nós chamamos absurdos, como se servem deles para entorpecer as consciências e aniquilar a razão."

Ao retomar a história de O ensaio sobre a cegueira, voltamos aos antigos personagens e ficamos sabendo como foram suas vidas 4 anos após a epidemia de cegueira.
Novamente, ninguém tem nome próprio e os mesmos adjetivos são usados para falar de cada um: o oftalmologista; a mulher deste; o primeiro cego e sua a mulher; a moça de óculos escuros; o rapaz estrábico e, por fim, o velho da venda preta.

Aos poucos os 3 policiais vão tomando consciência do que está acontecendo e aí o perigo passa a ser mais evidente.

"...somos uma pequena e trêmula chama que a cada instante ameça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo."

Pra quem leu O ensaio sobre a cegueira é indispensável a leitura desta obra. Pra quem não leu, corra e leia as duas.

Boa leitura!



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O livro do Peregrino

Carlos Nejar
Objetiva - 161 páginas

"Andar é se desfazer, até ficar inteiro." (página 29)
"Caminhar é desenraizar-se." (página 94)

O autor cria uma narrativa fantástica, na qual um viajante - o peregrino de quem não sabemos o nome - caminha e enfrenta os obstáculos da vida.

Ele não está só. Conta com a presença de vários personagens, tais como Galal (o último cavalo que virou homem), Cordélia, Nestor, o leão Teodósio, o lobo que se tornou cordeiro, as formigas, o cão sem nome. Cada um surge de uma forma peculiar, mas todos rumam ao abismo, ao fim.

O lirismo e a poesia de cada situação encantam.

"Só o amor dá coragem na travessia."
"Quem ama desaprende a cor do dia."

O tempo, a eternidade e Deus permeiam grande parte dos diálogos:

"A sabedoria é uma menina diante da eternidade."
"O tempo de Deus é devagar. O tempo do homem é que se esvai."
"A eternidade será pouca para ver Deus inteiro."

E a saudade?
"...o presente tem saudade. O futuro não: descobre-se."

Entre vilarejos, personagens surdos, mudos, que morrem, renascem, se descobrem vivos pela palavra, caminhamos junto com o peregrino. Passamos pelo Vale da Tribulação, pela floresta encantada, pelos desertos, pelos silêncios.

"Todos os silêncios serão capazes de fundar uma só palavra? Não, apenas a palavra faz o silêncio."

Quem leu O Peregrino de John Bunyan, reconhecerá uma certa influência desse clássico cristão, incluindo o mote da história. Mas Nejar não quer imitar, ele quer fazer poesia e exaltar os mistérios da vida e da morte.

Boa leitura!



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Memória de minhas putas tristes

Gabriel García Márquez
Ed Record - 127 páginas

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza." (página 74)

Prestes a completar 90 anos, o velho cronista decide presentear-se com uma noite de amor com uma jovem virgem.

Liga para Rosa Cabarcas, cafetina e dona de uma casa clandestina, que lhe arranja uma garota de 14 anos.

Na grande noite - e nas seguintes - o velho a encontra dormindo na cama e não tem coragem de acordá-la. Passa, então, a admirá-la e amá-la em seu sono profundo. Conversa com ela, canta, conta fatos, leva presentes e vive desse "diálogo" imaginário e feliz durante a vigília da moça. É assim que ele descobre o amor. Apesar de tido centenas de mulheres em seu leito, descobre na velhice que nunca amara de fato ninguém, a não ser "Delgadina", sua Bela Adormecida.

"Tornei-me de lágrima fácil".

Suas crônicas no jornal passam a refletir essa mudança de ânimo:

"...cada palavra era ela."

E o medo de perdê-la começa a atormentá-lo.

Com graça e maestria, García Márquez nos conduz para a vida desse homem solitário e nos mostra que o amor não tem hora pra chegar.

"O que você viveu ninguém rouba."

Boa leitura!

domingo, 28 de outubro de 2012

A última carta de amor

Jojo Moyes
Ed Intrínseca - 381 páginas

"Não sou tão forte quanto você. Quando a conheci, achei que você fosse uma coisinha frágil, alguém que eu precisava proteger. Agora percebo que me enganei. Você é a forte de nós dois..." (página 21)

Ellie Haworth é uma jornalista do Nation, que precisa de uma matéria inédita e especial. Sua vida não vai bem: está envolvida com um homem casado, sua chefe a está pressionando de forma cruel e sua criatividade parece ter ido por água abaixo.

Tudo parece perdido até que ela encontra uma carta de amor, escrita em 1960, numa pasta esquecida no arquivo do jornal.

A leitura das lindas palavras de B" para Jenny a emociona: ainda é possível encontrar um amor como esse nos dias de hoje? O que aconteceu com os protagonistas da carta 40 anos depois?

É assim que vamos conhecer Jennifer Stirling, uma jovem de 27 anos que acorda em um hospital, sem memória, e descobre aos poucos sua vida. É casada com Larry Stirling - um rico empresário - tem amigos da alta sociedade, possui casa na Riviera francesa. Tudo parece tão artificial, que ela não entende como conseguia levar essa vida e amar esse marido.

Um dia, Jenny encontra uma carta de "B" endereçada a ela e, em estado de choque, descobre que tem um amante. O problema é que ela não se lembra dele: seria algum amigo do marido? Alguém que frequenta sua casa?

Com habilidade, Jojo Moyes intercala as duas histórias e não dá vontade de largar o livro.

Pra quem curte romance, vai chorar litros de lágrimas e, se for como eu, vai sentir aquele saudosismo nostálgico da época em que escrever / receber uma bela cartinha, fazia o coração dar pulos de alegria.

Boa leitura!

P.S. Ganhei esse livro de presente do Dia das Crianças, de alguém especial. Café, presente, boa companhia e um livro com dedicatória: nessas horas sou como criança, me alegro com a simplicidade da vida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

De diamante para brilhante: construindo um relacionamento conjugal saudável

Paulo J.P. Kim
Oficina do Livro - 190 páginas

"A família é o jardim da personalidade humana, o principal lugar onde as pessoas formam-se, deformam-se e se transformam." (página 35)

Fico feliz quando alguém que conheço e admiro realiza um sonho. Este livro é fruto do sonho de um amigo querido e, por isso, não poderia deixar de ler e comentar a respeito.

O livro aborda questões e dificuldades pelas quais passam todo casal, além de dar sugestões em como lidar em cada situação.

Essas sugestões são baseadas em estudos empíricos, conversas, estatísticas e são exemplificadas com descrições de casos atendidos em seus 13 anos de ministério nessa área.

"Para construir um relacionamento conjugal saudável e uma família bem estruturada é preciso sim que Jesus esteja no controle de todas as situações."


Quando o casal decide ter Cristo como mestre e se mostra disposto a colaborar para que as pedras do caminho não se tornem obstáculos intransponíveis, fica mais fácil colocar em prática as várias dicas e sugestões do livro.


Boa leitura!

Em tempo: segue email do autor caso tenham interesse em adquirir o livro - capelania.paulo@gmail.com

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O paradoxo amoroso


Pascal Bruckner
Difel - 256 páginas

"Eis-nos submetidos, hoje, (...) a uma exigência contraditória: amar apaixonadamente, se possível ser amado do mesmo jeito, mas permanecendo autônomo." (página 35)

Como viver com o paradoxo do amor, que prega a entrega da paixão e a busca da liberdade? Através de seu ensaio, o filósofo francês fala sobre as metamorfoses do amor na vida da sociedade nos últimos anos.

Em que mudamos?

"Eros era um deus para os Antigos; para os Modernos, espera-se que faça de nós deuses." (pág 32)

E quem são os personagens de uma vida amorosa, num mundo em que as relações se constroem/descontroem continuamente? O ex, os enteados, os filhos de vários relacionamentos, as relações homoafetivas, as barrigas de aluguel.

"... estamos em plena criação de novas formas familiares, vivendo a angústia da transição." (pág 148)

E mesmo nessa vida familiar tão complexa, ainda é possível amar e celebrar.

"Eu celebro a superexcitação que o outro suscita em mim e protesto contra a desordem que ele me mergulha." (pág 75)

Novo paradoxo? Sim. Mas então, é ruim apaixonar-se?

"Apaixonar-se é dar relevo às coisas, encarnar-se de novo na densidade do mundo e descobri-lo mais rico, mais consistente do que suspeitávamos." (pág 82)

"Amar é antes de mais nada subtrair um ser da comunidade humana, desertificar o mundo e não saber de nada que não seja ele." (pág 86)

Como humanos, porém, somos passíveis de erros, de falhas:

"Não somos nem heróis nem santos, somos simples humanos com capacidade de dedicação limitada." (pág 119)

E mesmo com essa limitação, ainda podemos sonhar, amar e ser felizes.
Viver pode não ser fácil, mas com motivos para amar se torna bem mais interessante.

Boa leitura!


terça-feira, 7 de agosto de 2012

A invenção da solidão

Paul Auster
Companhia das Letras - 194 páginas


"...e acontecia com frequência, que sua vida não parecia mais habitar o presente." (página 152)

A perda do pai provoca no autor uma avalanche de sentimentos, que ele precisa por pra fora. E com palavras.

É assim que Auster conta sobre o relacionamento com seu pai, a personalidade fechada dele e o isolamento dos últimos tempos:

"Destituído de paixão por uma coisa, por uma pessoa ou por uma ideia (...) ele conseguiu se manter longe da vida, evitar a imersão no âmago das coisas."

Em suas palavras, o pai foi distante, não fazia força pra se envolver e mal se emocionava (nem quando seu único neto nasceu).

"O mundo ricocheteava nele, se espatifava de encontro a ele, às vezes aderia a ele - mas nunca entrava."

O autor desnuda seu coração ao comentar situações vividas com o pai e escava sua memória nessa árdua tarefa.

Mas ele também mostra o outro lado, como pai do pequeno Daniel e seu distanciamento deste por causa da separação da mulher.

O livro traz percepções maravilhosas sobre relacionamentos, solidão, destino, vida, memória, pensamentos. Não apenas na visão do autor, mas à luz de grandes nomes como Proust, Pascal, Freud, Flaubert, entre outros.


Trata-se de uma leitura envolvente, dolorosa e necessária.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Lições de Garra, Fé e Sucesso

Vitor Belfort
Thomas Nelson - 232 páginas


Tudo começou quando soube que ia gravar uma campanha da empresa com o Vitor Belfort. Eu não sabia praticamente nada dele. Apenas o básico: que ele era um lutador de MMA (artes marciais mistas, em tradução livre) e era marido da Joana Prado. 

Para não passar vergonha, comprei o livro para conhecer um pouquinho mais e tive uma boa surpresa: Vitor Belfort, com toda cara de mau, é um bom garoto.

No livro, ele conta da sua infância (imaginem um guri levado, que não parava quieto), adolescência (quando já sonhava em ser lutador) e de sua vida como lutador de MMA nos dias atuais. 

Como cristão, ele explica os motivos da sua fé, como a oração o ajuda e fala da importância de um lar feliz e estruturado em sua carreira de lutador.

"Quando eu oro, além de agradecer, me abro com Deus. Às vezes, nem peço nada. Constrangido por seu amor, prefiro sorrir."

É um livro que mostra não só como ele se prepara para as lutas do octógono mas, principalmente, como ele se prepara para as lutas da vida.


"Viver a eternidade é estar presente em cada momento da vida (...) Precisamos aprender a apreciar o momento que Deus nos deu agora." 


Boa leitura!

obs: a gravação correu tudo bem, não dei vexame ao conversar com ele e...ainda ganhei um autógrafo no meu livro!




quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ostra feliz não faz pérola

Rubem Alves
Ed Planeta - 276 páginas


"A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.
(...) São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer." (página 12)




Rubem Alves continua sendo um menino que escreve coisas belas, que brinca com as palavras, que flerta com a poesia. 


Ele tem um caso de amor com a vida (aliás, a exemplo de Robert Frost, ele também quer isso escrito em sua lápide quando morrer).


O livro é uma coletânea de pensamentos sobre diversos assuntos: amor, beleza, crianças, educação, natureza, velhice, morte, entre outros. 


Em cada um há aquela chama de vida, de encantamento e de afeto:


"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação (...) Porque amor é algo que não se possui, jamais. É evento de graça." (pág 79)


"A poesia é uma perturbação do olhar. O poeta vê o que não está lá." (pág 95)


"...para onde foram os dias que vivi?" (pág 110)


"Somos poesia. A poesia nos move. Se você duvida, é porque nunca amou." (pág 181)


"O que envelhece não é o tempo. É a rotina. o enfado, a incapacidade de se comover ante o sorriso..." (pág 247)


"Livros são brinquedos para o pensamento." (pág 19).


Meu conselho? Vá brincar com esse livro-brinquedo agora!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Peregrino

John Bunyan (1628-1688)
Editora Mundo Cristão - 235 páginas

Trata-se de uma alegoria cristã, que conta a história de "Cristão" rumo a Cidade Celestial.
Ao perceber que vive na Cidade da Destruição e que seu destino é a morte, decide seguir os ensinamentos de um livro - a Bíblia - e parte para sua jornada.

A viagem não é fácil!

Ele se encontra com personagens como o sr Volúvel, o Sábio-segundo-o-mundo, a dona Libertina, o sr Tagarela e tantos outros que o induzem a se desviar do caminho.

Mas, também conta com a ajuda de Evangelista, Fiel, Esperançoso, Piedade, dona Caridade etc que o estimulam a prosseguir e o ensinam muitas coisas proveitosas e edificantes.

Tentações, dores, problemas, dúvidas, angústias aparecem e nosso viajante é desafiado a decidir para prosseguir. Às vezes, ele erra e as consequências são terríveis.

Não dá pra conta mais para não estragar o prazer da leitura.

Vale a pena viajar!

terça-feira, 3 de julho de 2012

On the road

Jack Kerouac (1922-1969)
L&PM Editores - 294 páginas

"Porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam..." (página 21)


EUA, final da década de 50.

Os amigos Sal Paradise e Dean Moriarty querem mais é curtir a vida, sem pensar no amanhã, muito menos nas consequências de suas inconsequências.
O que importa é que são amigos (será?), estão sempre cercados de mais amigos, cerveja, garotas e, claro, problemas.

Mas a vida só tem sentido quando eles pegam a estrada para cruzar o país, de leste a oeste, de oeste a leste, de norte a sul.

Buscam "aquilo" - algo etéreo que é o sentido da vida - e varam noites no asfalto, na bebedeira, nas baladas de sax das periferias.

Dean é o maluco da vez, que transpira, fala sem parar, se droga exaustivamente, casa-separa-reata-separa de novo, faz filhos, procura o pai vagabundo, se mete em encrencas, abandona os amigos, resgata os amigos, vive o paradoxo da vida em sua plenitude.

Sal o enxerga como um irmão: discutem, conversam, viajam, ah como viajam!
E ainda tem Marylou (esposa de Dean), Camille (esposa de Dean), Inez (esposa de Dean) e os vários amigos de estrada afora (Carlo Marx, Remi, Terry, Ed Dunkel, Galatea Dunkel, Tim Gray, Babe Rawlins, e muitos outros).

Eles buscavam ser felizes, mas será que foram? O meu conceito é bem diferente, mas a leitura é ótima pra vermos o outro lado da vida.

"Porque afinal ali estávamos nós, lidando com o inferno e com a amargura da pobre vida beat nessas horrorosas ruas da humanidade." (página 188)

Kerouac deu nome e vida ao movimento beat - em constante movimento, numa adrenalina sem fim - e fez história a partir de 1957, quando seu livro foi publicado. Nascia ali o mito On the road.

Agora, é esperar pra ver nas telinhas o filme de Walter Salles.




Boa leitura!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tia Júlia e o escrevinhador

Mario Vargas Llosa
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 397 páginas

"Viver era, para ele, escrever." (página 142)

Trata-se de um romance autobiográfico delicioso de ler, ambientado na Lima dos anos 50.

Varguitas, então com 18 anos, trabalha em uma rádio e faz faculdade de direito (para agradar aos pais). Um dia, se apaixona por tia Julia, cunhada de seu tio, divorciada, 32 anos.

O sentimento é recíproco e, para evitar o falatório da família, decidem  esconder o romance. Como cúmplices, apenas os 3 amigos mais chegados de Mario (Javier, Pascual e Grande Pablito) e sua prima Nancy.

Um dia, seus pais descobrem tudo e proibem o namoro. Como Mario é "menor" de idade, não pode se casar sem a autorização deles. Começa aí a busca do casal para oficializar a união, numa sequencia de fatos divertidos e surreais.

Trabalhando na rádio, Vargas conhece ainda Pedro Camacho, boliviano que escreve várias radionovelas com grande audiência. Sua admiração pelo pequeno homem é enorme e ele tenta se aproximar da criatura excêntrica.

Com o passar do tempo, porém, Pedro começa a misturar a história das novelas, deixando o público e os donos da rádio em polvorosa: aonde aquilo tudo ia acabar?

Intercalando a história de Vargas e Júlia com as radionovelas de Pedro Camacho, o autor (prêmio nobel em 2010) nos presenteia com um romance maravilhoso, que rende boas risadas do começo ao fim.

Boa leitura!



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Navegações e Regressos

Pablo Neruda (1904-1973)
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 197 páginas

"Só em meu coração as cicatrizes florescem e recordam..." (página 138)

Nas breves odes, Neruda exalta a alegria de voltar para casa  ( o Chile ) e a de conhecer o mundo.
Exalta a Venezuela, a China, o Brasil.
Olha para o grande, mas não esquece dos pequenos detalhes. Por isso, vê a beleza do mar, do gato, do elefante, da cama, do cavalo e até das coisas quebradas!
Olha para dentro de si e ao redor de si.

Suas viagens enriqueceram sua alma.

"Não fui estrangeiro de olhos mortos:
compartilhei o pão e todas as suas bandeiras."
(em Encontro no mar com as águas do Chile)

"O que toquei, minhas mãos esconderam.
O que escutei trago
escrito nas rugas de minha testa.

Mais jovem e mais velho
desta vez, como sempre, regressei:
mais jovem por amor, amor, amor,
mais velho porque sim, porque me mordem os relógios, os meses, os agudos
dentes do calendário."
(em Ao Chile, de volta)

Sua alma transborda de poesia.

"minha poesia se fez passo a passo,
trotando pelo mundo,
devorando caminhos pedregosos,
comendo com
os miseráveis."
(em Ode ao cavalo)

Sua poesia ecoa no silêncio.

"Eu quero que cante o silêncio."
(em Três meninas bolivianas)

"Terminou a tormenta.
Mas o silêncio é outro."
(em Tempestade com silêncio)


Boa leitura!

domingo, 3 de junho de 2012

As esganadas

Jô Soares
Companhia das Letras - 262 páginas

Rio de Janeiro, década de 30, época de Getúlio no poder.

Esse é o pano de fundo de uma história em que várias moças obesas são assassinadas com requintes de crueldade, em locais e formas diferentes.

Logo de cara já sabemos quem é o assassino e o motivo que o leva a cometer tais atrocidades.

A polícia, por sua vez, não sabe por onde começar a investigar, pois não encontra nenhuma impressão digital do psicopata nos locais dos crimes.

Enquanto isso, novas moças aparecem mortas pela cidade: nuas, machucadas, sem as órbitas oculares. Todas morrem com o estômago cheio. Cheio até demais.

Claro que não faltam personagens caricatos, como o português Tobias Esteves, o delegado Noronha Mello, o inspetor Calixto, a bela jornalista Diana e a figura de um anão - como sempre! Mas o que era para ser algo engraçado, perde a graça com a descrição das mortes: são descrições macabras e desnecessárias para esse tipo de leitura.

Jô Soares já esteve melhor. O limite do bom humor e do mau gosto é bem tênue e em vários momentos o segundo leva vantagem.

Se for pra escolher, prefira a obra anterior dele: Assassinatos na Academia Brasileira de Letras.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A visita cruel do tempo

Jennifer Egan
Intrínseca - 335 páginas

"...estou sempre feliz. É que às vezes eu esqueço." (página 11)

Imagine uma trama que se passa entre a década de 70 e um futuro próximo, permeia a vida de alguns personagens e é narrada por vozes distintas em lugares e tempos distintos.

O desafio de cada um dos 13 capítulos é descobrir sobre quem está se falando e...quando! Ora pode ser uma amiga de Bennie, um empresário do ramo musical, ora pode ser a filha de uma das protagonistas. Mas também pode ser um interlocutor neutro. 

Sasha é cleptomaníaca, mas trabalha para Bennie, que é casado com Sthepanie, a qual é irmã de Jules - um repórter de celebridades que comete um tremendo deslize. Ops, Bennie é casado com outra pessoa...mas em outro tempo. Ele tem um filho, quer dizer, mais tarde tem uma filha com a segunda mulher também.

La Doll é mãe de Lulu e já foi chefe de Sthephanie, mas sua vida muda após ser relações públicas de um tirano homicida.

Ficamos sabendo ainda de Jocelyn, Scotty, Bosco, Rhea, Lou, Charlie, Rolph, Rob, Kitty, Drew... a lista é extensa e, de certo modo, a vida de todos de entrelaçam em algum momento.

As perspectivas mudam, as coisas acontecem, os sonhos da juventude são atropelados pela realidade, a amizade de um grupo se dilui, a essência da vida muda...
São transformações pessoais, metamorfoses e grandes sacadas no meio de cada fragmento dos relatos da vida.

Imperdiível!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Marina

Carlos Ruiz Zafón
Editora Objetiva - 189 páginas

"...cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele." (página 8)

Óscar Drai é um garoto de 15 anos que vive num internato em Barcelona e adora dar suas escapulidas para perambular pela cidade.

Um dia, ele vai parar em frente a um casarão antigo e, intrigado com o lugar, decide ver se tem alguém morando lá.
Para sua surpresa, ele descobre que sim e é uma bela moradora, por sinal: Marina. A garota mora com seu pai, Gérman e tem um estilo de vida bem peculiar.

Óscar e Marina tornam-se amigos-quase-namorados e, de uma hora outra pra outra, se vêem envolvidos numa trama macabra e perigosa.

A trama tem suspense, humor, romance, ficção na dose certa e te prende do começo ao fim.

Pode parecer que se trata de mais um livro infanto-juvenil, mas ele vai além, pois tem uma sensibilidade ímpar, doce e maravilhosa.

Belíssimo!

" A beleza é um sopro contra o vento da realidade..." (página 45)

obs: esse autor escreveu também A sombra do vento, outra obra linda e marcante :)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Sonetos do amor obscuro e divã do Tamarit

Federico García Lorca (1898-1936)
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 87 páginas

"Esta luz, este fogo que devora.
Esta paisagem gris que me rodeia.
Esta dor por uma só ideia.
Esta angústia de céu, mundo e hora."
(Chagas de Amor - página 19)

Ler poesia é ser transportado para um mundo paralelo, onde os sentimentos se impõem sobre a razão.

Ler a poesia lírica de García Lorca é um subir um degrauzinho acima desse mundo paralelo.

O amor é tratado em sua beleza, em sua dor (Do pranto), em sua amargura (Da raiz amarga), em sua intensidade (Chagas de amor), em sua doçura (Soneto gongórico em que o poeta manda seu amor a uma pomba).

São 32 poemas que devem ser lidos, apreciados, degustados.

Como bem disse Fabrício Corsaletti na apresentação da obra, "não sei se a arte pode mudar o mundo. Sei que diante da poesia de Lorca é preciso mudar de vida."

Preciso dizer mais?

O livro da areia

Jorge Luis Borges
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 103 páginas

"Como a areia, escoava o tempo..." (página 19)

Minha primeira experiência com Jorge Luis Borges não foi lá das melhores. Li Ficções e achei superconfuso. Mas, agora, a história foi outra: curti cada conto!

Sonhos, viagens, visitas de outros tempos e de outras eras, a busca pela "palavra", os mistérios da vida e da morte são os temas mais recorrentes.

"Os anos passam e tantas vezes contei a história, que não sei se a recordo de fato ou se só recordo as palavras com que a conto." (A noite dos dons)

Os fatos da vida, quando contados, tomam outro rumo? Será que tudo que nos acontece é fruto da realidade, ou as coisas fluem como num sonho, meio que sem pé nem cabeça mesmo?

"Para ver uma coisa, é preciso compreendê-la." (There are more things)

E quando não a compreendemos?

Então, podemos escrever...
"As proezas mais ilustres perdem o brilho se não forem cunhadas em palavras." (O espelho e a máscara)


Vale a pena a leitura!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Limites para Adolescentes

Dr. John Townsend
Editora Vida - 368 páginas

"...limites são a demarcação da propriedade particular de uma pessoa. É o modo com que a pessoa se define." (página 17)

Para se educar um filho, a primeira coisa que os pais precisam ter em mente é: quais os limites que quero estabelecer na criação do meu filho?

Não é um caminho fácil e os pais vão se deparar com medos, culpas e pressões de todos os lados. Por isso, o autor trata primeiro dos pais e desses sentimentos.

"Você só pode educar seu filho até onde seu nível de maturidade permite." (pág 69)

Em seguida, o autor mostra como é o mundo adolescente: como ele pensa? De que forma a cultura o influencia? E os amigos?

Só então, são abordados os problemas mais comuns e como lidar com cada um. Dos mais simples, como o uso da internet, aos mais pesados, como a dependência de álcool e drogas. Os temais são tratados por tópicos e são bem diversificados: atividade sexual, uso do carro, comportamento agressivo, uso do dinheiro, festas, mentiras, problemas escolares etc

Em alguns momentos, parece um manual militar. Pegue leve! Leia as dicas, absorva o que é bom e converse com seu cônjuge.

Educação se faz em família e com a orientação de Deus. Sempre.

Boa leitura!

domingo, 15 de abril de 2012

Educando Adolescentes: Como construir um relacionamento para toda a vida

Gary Ezzo e Robert Bucknam
Ed Universidade da Família - 221 páginas

"Autoridade demais resulta em totalitarismo, se for insuficiente, leva à injustiça e ao caos social." (página 78)

Se educar uma criança não é brincadeira, educar um adolescente também não é!

Numa fase em que os hormômios estão a mil por hora, como lidar com seu filho adolescente? Como encarar o poder da mídia? Como ter voz em meio a tantas opiniões divergentes? Como garantir um lar estável que transmita segurança?

Com exemplos pessoais, os autores dão dicas de como lidar com conflitos de temperamento, mostra a importância do equilíbrio no relacionamento dos pais e de como fazer o adolescente "voltar aos trilhos", caso percebam algum problema de comportamento.

A leitura é fácil e agradável, sem receias prontas.
Leia sem medo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Educando Crianças: como criar filhos de 3 a 7 anos

Gary Ezzo e Robert Bucknam
Ed Universidade da Família - 251 páginas

"A amizade com nossos filhos não é o ponto de partida da educação deles, mas o alvo." (página 56)

Quem disse que educar um filho é fácil? Não é, mas também não precisa ser um deus-nos-acuda.

Com bom senso e bom humor, os autores listam 15 princípios para educar com sabedoria e falam sobre eles.

Pode parecer uma receitinha de bolo, mas vai além. Com exemplos do dia a dia, eles mostram como criar um ambiente correto em casa, estabelecer prioridades, exercer disciplina, reforçar atitudes positivas, entre outras situações.

"Quando as crianças forem pequenas, lidere pelo poder de sua autoridade. Quando estiverem mais velhas, lidere-as pela força da sua influência." (pág.52)

Os autores mostram também como é importante haver harmonia no lar, para que a criança cresça em segurança:

"...uma relação saudável entre marido e mulher é essencial para a saúde emocional dos filhos." (pág.38)

"Quando falta aos pais determinação por trás das instruções, falta aos filhos motivação para obedecê-los." (pág. 118)

"A humildade é a base das família saudáveis" (pág. 133)

"Não se engane: você precisa se controlar antes de poder controlar seu filho." (pág. 208)

Por fim, eles listam uma série de atividades e "truques" que irão entreter e unir toda a família.

Boa leitura!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Um coração que nunca desiste

Beverly Linder
Universidade da Família - 158 páginas

"Percebi que 'difícil' não é sinônimo de 'ruim'" (página 26)

Depois ter perdido uma filha de 3 anos com um sério problema muscular, a autora tem mais 2 meninos. Um nasce saudável. O outro com a mesma doença muscular que levou sua irmãzinha. Como encarar a vida? É possível ser feliz e sonhar?

Nesse livro, a autora nos mostra que sim, é possível ser feliz, mesmo em situações adversas, e sonhar quando você deposita sua fé em Jesus e confia nEle.

Em breves capítulos ela narra situações do cotidiano de Brad, seu filho especial, e mostra como não desistir da alegria; de demonstrar amor incondicional; de estabelecer limites; além de não desistir nos momentos mais difíceis.

Por fim, ela dá exemplos em como estimular seus filhos, especialmente o caráter, a saúde física e a perseverança deles.

"Você não tem uma alma, mas é uma alma. O que você tem é um corpo." (C. S. Lewis, citado no livro)

A leitura é fácil, objetiva e traz muitas sugestões valiosas.

Você tem uma alma preciosa pra cuidar? Cuide bem dela!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Precisamos falar sobre o Kevin

Lionel Shriver
Intrínseca - 464 páginas

"São tantas as histórias que já estão esboçadas antes de começar." (página 22)

Esse é um livro denso, duro e marcante. Se quiser coisa leve para distrair a mente, nem chegue perto, porque esse machuca.

Eva Khatchadourian é mãe de Kevin - um garoto de quase 16 anos que mata 9 pessoas de seu colégio - e é sob a visão dela que iremos tomar conhecimento de toda a história.

Os detalhes desta fatídica quinta-feira de abril de 1999, assim como de fatos da vida de Kevin ao longo de sua existência, são despejados nas cartas que Eva escreve para Franklin, seu marido. São palavras de dor, escritas num tom confessional, que saem de seu coração, ora aos prantos, ora com raiva.

Onde erraram? Porque ela sempre soube que o menino tinha "algo" diferente, que tinha uma índole má, manipuladora e traiçoeira, a despeito do que pensava Franklin? Por que a outra filha, Célia, não era assim, mas era gentil e amável?

Ao fazer uma retrospectiva da forma como conheceu Franklin, do seu trabalho como executiva de uma empresa de guias de viagens, da decisão de ter um filho, do nascimento de Kevin, da educação dos filhos e dos problemas nesse processo, nós mergulhamos fundo no mundo de Eva.

Somos levados a ver Kevin como alguém que já nasceu mau, desde o berço: não uma maldade infantil comum, mas um jeito cruel de agir com todos com os que o cercavam.


Agora, quase 2 anos após a tragédia, Eva ainda encontra forças para visitar o filho encarcerado numa instituição para menores infratores e continua se surpreendendo com as atitudes dele.

Leitura dolorosa, mas muito boa.

p.s. abaixo, a dedicatória do meu presente.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

1808

Laurentino Gomes
Planeta - 368 páginas

"Nenhum outro período da história brasileira testemunhou mudanças tão profundas, decisivas e aceleradas quanto os treze anos em que a corte portuguesa morou no Rio de Janeiro." (página 288)

De uma forma leve e bem humorada, o autor nos leva a uma viagem no tempo. O livro aborda os anos que antecederam a fuga da família real de Portugal; a viagem e todos os perigos da travessia; a acomodação dos novos moradores no Brasil Colônia e as consequências dessa viagem para Brasil e Portugal.

Imagine que entre 10 mil e 15 mil pessoas viajaram para um local desconhecido, há 2 séculos, sem o mínimo de conforto, sujeitas aos perigos da época, de doenças à ataques de piratas:

"Não havia água corrente nem banheiros. (...) No calor sufocante das zonas tropicais, ratos, baratas e carunchos infestavam os depósitos de mantimentos. A água apodrecia logo, contaminada por bactérias e fungos. (...)
No Alfonso Albuquerque, em que viajava a princesa Carlota Joaquina, uma infestação de piolhos obrigou as mulheres a raspar os cabelos e a lançar as suas perucas ao mar." (págs 82 e 85)

A imagem do Brasil pela ótica dos viajantes não era muito boa. O inglês James Henderson disse: "O Brasil não é lugar de literatura" (em 1819). Já o botânico William Burchell foi mais enfático: "Nesse país de analfabetismo, não se encontra ninguém que tenha intimidade com a noção de ciência" (página 238).
Por outro lado, com a abertura dos portos e o fim da proibição de acesso ao Brasil, muitos geográfos, biólogos, botânicos e vários cientistas vieram para cá, explorar e estudar a riqueza natural.

O Brasil acabou se tornando a bola da vez...

A leitura flui com leveza, com alguns trechos meio cansativos, mas já na parte final, o que não compromete a obra.

Pra quem curte História e deseja mais saber sobre essa época, está aí uma excelente pedida.

Boa leitura!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Cartas à ilusão

Van Luchiari
Novitas - 124 páginas

"Só quem tem a coragem de sentir é capaz de amar. Amar é um ato de ser." (página 14 - em "Amor e tempestades")

Desconcertantes. Assim são cada carta-poema, em que a autora se desnuda, sem pudor ou vergonha, e expõe seus sentimentos e vísceras.

Dor, saudade, êxtase, alegria, euforia, solidão... Esse turbilhão de emoções, típico de quem ama, está presente na obra toda.

"Foi por ti que voltei a usar meus sorrisos. Timidamente..." [Dos êxtases oníricos]

"Uma saudade de coisas que nem minhas são, nem nunca foram e talvez nunca sejam, mas já são tanto e tão minhas que quase as tenho." [Cotidiano nº 4 - Diariamente não é mais como todo dia]

"Confesso: Amar-te é deixar-me." [Alquimia]

"Meu amor é esse inexperiente tropeço." [Inevitável]

"E no fim o que me completa é essa tua ausência tão cheia de nadas." [Banquete Imaginário]

Minhas poesias preferidas?
" A espera tem mil olhos", "Se tu olhares", "Tão pouco e tanto", "Fartura e Vazio", "Tempo, " So sorry". São tocantes, marcantes, quase subjetivas, são afagos, como veio na dedicatória:


Leia com o coração. Ele será o melhor arbítrio de qualquer crítica.

Boa leitura!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quando tudo não é o bastante

Harold Kushner
Nobel - 109 páginas

"Nossas almas não estão sedentas de fama, conforto, propriedades ou poder. Esses valores criam muitos problemas quando alcançados. Nossas almas têm fome do significado da vida..." (página 11)

O rabino Kushner nos desafia a refletir sobre o significado da vida e o que verdadeiramente importa, a partir do livro Eclesiastes, do Velho Testamento.

Como ser feliz?

"Desconfio que as pessoas mais felizes são aquelas que se esforçam para serem generosas, prestativas e confiáveis - e a felicidade entra de mansinho em suas vidas enquanto elas estão ocupadas com este esforço."

Onde surge o amor?

"O amor só pode surgir entre pessoas que se sentem iguais, entre pessoas que são capazes de se completar. Quando um ordena e outro obedece, pode haver lealdade e gratidão, mas não amor."

O que é a vida? Como ser feliz no casamento? O que nos tira o prazer de viver? Como ter uma vida com sabedoria?

Essas questões, difíceis por natureza, são levantadas e nos levam a refletir sobre a importância que damos - ou não - às coisas que realmente valem a pena.

"A vida boa (...) não está baseada em alguns poucos grandes momentos, mas em muitos e muitos pequenos momentos."

Será que, em meio à correria do dia a dia, não estamos deixando de lado o que verdadeiramente importa e, com isso, acumulando mágoas e desilusões?

"Quando aprendemos a viver, a própria vida é a recompensa."

Boa leitura!