Carlos Nejar
Objetiva - 161 páginas
"Andar é se desfazer, até ficar inteiro." (página 29)
"Caminhar é desenraizar-se." (página 94)
O autor cria uma narrativa fantástica, na qual um viajante - o peregrino de quem não sabemos o nome - caminha e enfrenta os obstáculos da vida.
Ele não está só. Conta com a presença de vários personagens, tais como Galal (o último cavalo que virou homem), Cordélia, Nestor, o leão Teodósio, o lobo que se tornou cordeiro, as formigas, o cão sem nome. Cada um surge de uma forma peculiar, mas todos rumam ao abismo, ao fim.
O lirismo e a poesia de cada situação encantam.
"Só o amor dá coragem na travessia."
"Quem ama desaprende a cor do dia."
O tempo, a eternidade e Deus permeiam grande parte dos diálogos:
"A sabedoria é uma menina diante da eternidade."
"O tempo de Deus é devagar. O tempo do homem é que se esvai."
"A eternidade será pouca para ver Deus inteiro."
E a saudade?
"...o presente tem saudade. O futuro não: descobre-se."
Entre vilarejos, personagens surdos, mudos, que morrem, renascem, se descobrem vivos pela palavra, caminhamos junto com o peregrino. Passamos pelo Vale da Tribulação, pela floresta encantada, pelos desertos, pelos silêncios.
"Todos os silêncios serão capazes de fundar uma só palavra? Não, apenas a palavra faz o silêncio."
Quem leu O Peregrino de John Bunyan, reconhecerá uma certa influência desse clássico cristão, incluindo o mote da história. Mas Nejar não quer imitar, ele quer fazer poesia e exaltar os mistérios da vida e da morte.
Boa leitura!
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