domingo, 27 de dezembro de 2015

A brincadeira

Milan Kundera
Companhia das Letras - 352 páginas

"... não são os inimigos, e sim os amigos que condenam o homem à solidão." (página 186)

Em 1948 Jahn Ludvik era um jovem universitário, que cursava Ciências em Praga e defendia as ideias e os ideais do Partido Comunista. 
Um dia, porém, ele se apaixona por Marketa, uma garota do primeiro ano e começam um namorico mas, logo em seguida, ela decide aceitar um estágio de formação do Partido durante 15 dias, num castelo da Boêmia. 

Ele sentia a falta dela; ela transbordava alegria na carta que lhe enviara e não parecia estar com saudades dele. Aí, para "feri-la, chocá-la, desnorteá-la", ele escreve um cartão postal com uma brincadeira: "O otimismo é o ópio do gênero humano! O espírito sadio fede a imbecilidade. Viva Trótski! Ludvik."

E então, seu mundo caiu. 

Integrantes do Partido leram seu cartão, entenderam que ele zombava e depreciava os ideais defendidos e o expulsam da faculdade. De uma hora para outra, ele se viu trabalhando nas minas de Ostrava, de forma intensa, dura, cruel. Não adiantou falar, argumentar, se defender. Seu destino já fora traçado.

"A despersonalização que nos infligiam pareceu perfeitamente opaca nos primeiros dias; impessoais, impostas, as funções que exercíamos substituíam todas as nossas manifestações humanas (...) meu ser interno se recusava a aceitar seu destino." (pág. 63)

E então, depois de algum tempo, surge Lucie. Uma jovem que ele conhece em um de seus dias de folga e, logo, se vê apaixonado por ela.

"...sei muito bem que o amor tem tendência a gerar sua própria lenda, a mitificar posteriormente seus começos." (pág. 84)

Não dá para contar muito além disso, mas Ludvik cumpre seus anos de trabalho forçado, sai de Ostrava e, durante todo esse período alimenta seu ódio às pessoas que mudaram sua vida, especialmente Zemanek, o então presidente do partido na faculdade.

E ele decide voltar à Morávia, sua terra natal, para cumprir um ato de vingança. 

"Adiada, a vingança se transforma em um embuste, em religião pessoal, em mito cada dia mais afastado de seus próprios atores..." (pág. 321)

Na Morávia, Ludvik reencontra pessoas que não esperava, revê conceitos e faz belas reflexões. E a vingança? Bom, aí é melhor você ler pra saber se ele leva a cabo ou não...

Excelente leitura!