domingo, 15 de novembro de 2015

A lentidão

Milan Kundera
Companhia das Letras - 105 páginas

" ...a fonte do medo está no futuro e quem se liberta do futuro nada tem a temer." (página 7)

Minha paixão por Kundera começou com A insustentável leveza do ser, que li há cerca de 5 anos. Ele é hábil em criar personagens densos que transpiram alegrias e dores, sucessos e fracassos, de forma intensa e, por vezes, insana.

A partir de um castelo francês do século XVIII, ele cria diversas histórias, com dramas distintos, baseado nas questões: o que se passa ao meu redor? Por que as pessoas se comportam assim e não de outra forma? Por que meu comportamento foi esse? O que nossas palavras querem, de fato, dizer?

"A palavra pronunciada num pequeno espaço fechado tem um significado diferente da mesma palavra ressoando num anfiteatro." (pág. 80)

E não só conta o que se passa num encontro de entomólogos nesse castelo, com um sábio tcheco, o "dançarino" Vincent e o próprio autor com sua esposa Vera, mas retoma uma trama libertina do século XVIII para ir e vir no tempo.

Ele questiona a felicidade, o prazer, o mundo que virou um palco, a ociosidade e a velocidade da vida:

" Estaríamos nós todos presos na mesma armadilha, surpreendidos por um mundo que, subitamente, sob nossos pés, transformou-se num palco do qual não podemos sair?" (página 69)

"...será que podemos viver no prazer e para o prazer e sermos felizes? O ideal de hedonismo é realizável?" (pág. 96)

Vale a pena a leitura!




sábado, 7 de novembro de 2015

Travessuras da menina má

Mario Vargas Llosa
Alfaguara - 304 páginas

"Por sua culpa, eu perdera as ilusões que fazem da existência algo mais do que uma soma de rotinas." (página 166)

O amor que Ricardo Somocurcio sente por Lily, ou pela pessoa que se diz chamar-se Lily, começa na adolescência em Miraflores, Peru, no verão de 1950.

A "chilenita" ousada conquistou seu coração, mas logo ele descobre que a vida dela é cercada de mistérios e que não deve acreditar em tudo que diz.

O tempo passa e Ricardo vai para Paris, onde se torna tradutor pela Unesco para ganhar a vida. Lá, ele reencontra Lily, agora com o nome de camarada Arlette, a qual se prepara para ir para Cuba, como bolsista de um treinamento guerrilheiro.

Ela vai para Cuba e quando volta, casada, Ricardito, o bom menino, tem certeza que a ama e vai fazer de tudo para que ela seja sua. Tudo correria às mil maravilhas se Lily-Arlette e, agora, madame Robert Arnoux, não fosse alguém que quisesse subir na vida a todo custo, passando por cima de quem quer que fosse, inclusive Ricardito.

"...eu continuo doido por ela. Foi só vê-la para reconhecer que, mesmo sabendo que qualquer relação com a menina má estava condenada ao fracasso, a única coisa que eu realmente desejava na vida, com a mesma paixão que outros dedicam a perseguir a fortuna, a glória, o sucesso ou o poder, era ela, com todas as suas mentiras, suas confusões, seu egoísmo e seus desaparecimentos..." (pág.100)

E assim, Llosa nos leva a viajar pela França, Londres, Tóquio, Peru e Madri, ao longo dos anos 50 até a década de 80, acompanhando os movimentos políticos e sociais de cada época, e as peripécias da menina má com o bom menino.

Boa leitura!