quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tia Júlia e o escrevinhador

Mario Vargas Llosa
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 397 páginas

"Viver era, para ele, escrever." (página 142)

Trata-se de um romance autobiográfico delicioso de ler, ambientado na Lima dos anos 50.

Varguitas, então com 18 anos, trabalha em uma rádio e faz faculdade de direito (para agradar aos pais). Um dia, se apaixona por tia Julia, cunhada de seu tio, divorciada, 32 anos.

O sentimento é recíproco e, para evitar o falatório da família, decidem  esconder o romance. Como cúmplices, apenas os 3 amigos mais chegados de Mario (Javier, Pascual e Grande Pablito) e sua prima Nancy.

Um dia, seus pais descobrem tudo e proibem o namoro. Como Mario é "menor" de idade, não pode se casar sem a autorização deles. Começa aí a busca do casal para oficializar a união, numa sequencia de fatos divertidos e surreais.

Trabalhando na rádio, Vargas conhece ainda Pedro Camacho, boliviano que escreve várias radionovelas com grande audiência. Sua admiração pelo pequeno homem é enorme e ele tenta se aproximar da criatura excêntrica.

Com o passar do tempo, porém, Pedro começa a misturar a história das novelas, deixando o público e os donos da rádio em polvorosa: aonde aquilo tudo ia acabar?

Intercalando a história de Vargas e Júlia com as radionovelas de Pedro Camacho, o autor (prêmio nobel em 2010) nos presenteia com um romance maravilhoso, que rende boas risadas do começo ao fim.

Boa leitura!



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Navegações e Regressos

Pablo Neruda (1904-1973)
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 197 páginas

"Só em meu coração as cicatrizes florescem e recordam..." (página 138)

Nas breves odes, Neruda exalta a alegria de voltar para casa  ( o Chile ) e a de conhecer o mundo.
Exalta a Venezuela, a China, o Brasil.
Olha para o grande, mas não esquece dos pequenos detalhes. Por isso, vê a beleza do mar, do gato, do elefante, da cama, do cavalo e até das coisas quebradas!
Olha para dentro de si e ao redor de si.

Suas viagens enriqueceram sua alma.

"Não fui estrangeiro de olhos mortos:
compartilhei o pão e todas as suas bandeiras."
(em Encontro no mar com as águas do Chile)

"O que toquei, minhas mãos esconderam.
O que escutei trago
escrito nas rugas de minha testa.

Mais jovem e mais velho
desta vez, como sempre, regressei:
mais jovem por amor, amor, amor,
mais velho porque sim, porque me mordem os relógios, os meses, os agudos
dentes do calendário."
(em Ao Chile, de volta)

Sua alma transborda de poesia.

"minha poesia se fez passo a passo,
trotando pelo mundo,
devorando caminhos pedregosos,
comendo com
os miseráveis."
(em Ode ao cavalo)

Sua poesia ecoa no silêncio.

"Eu quero que cante o silêncio."
(em Três meninas bolivianas)

"Terminou a tormenta.
Mas o silêncio é outro."
(em Tempestade com silêncio)


Boa leitura!

domingo, 3 de junho de 2012

As esganadas

Jô Soares
Companhia das Letras - 262 páginas

Rio de Janeiro, década de 30, época de Getúlio no poder.

Esse é o pano de fundo de uma história em que várias moças obesas são assassinadas com requintes de crueldade, em locais e formas diferentes.

Logo de cara já sabemos quem é o assassino e o motivo que o leva a cometer tais atrocidades.

A polícia, por sua vez, não sabe por onde começar a investigar, pois não encontra nenhuma impressão digital do psicopata nos locais dos crimes.

Enquanto isso, novas moças aparecem mortas pela cidade: nuas, machucadas, sem as órbitas oculares. Todas morrem com o estômago cheio. Cheio até demais.

Claro que não faltam personagens caricatos, como o português Tobias Esteves, o delegado Noronha Mello, o inspetor Calixto, a bela jornalista Diana e a figura de um anão - como sempre! Mas o que era para ser algo engraçado, perde a graça com a descrição das mortes: são descrições macabras e desnecessárias para esse tipo de leitura.

Jô Soares já esteve melhor. O limite do bom humor e do mau gosto é bem tênue e em vários momentos o segundo leva vantagem.

Se for pra escolher, prefira a obra anterior dele: Assassinatos na Academia Brasileira de Letras.