quinta-feira, 9 de março de 2017

Diário de um ano ruim

J.M.Coetzee
Companhia das Letras - 242 páginas

"A pessoa se apega à convicção de que alguém, em algum lugar, a ama o suficiente para a ela se apegar, para impedir que seja levada. Mas a convicção é falsa. Todo amor é moderado, no fim. Ninguém irá com ninguém." (página 173)

Li Desonra há cerca de um ano e meio e foi meu primeiro contato com Coetzee, um autor que alia sensibilidade à dura realidade da vida. Na época, disse que o livro foi um soco no estômago (e foi mesmo!). Neste livro, porém, a situação não chega no limite físico como no outro, mas nem por isso é menos perturbador.

Aqui temos o Señor C, um respeitado escritor sul-africano de 72 anos, que mora em um condomínio na Austrália e recebe uma incumbência de um editor alemão: escrever suas opiniões acerca de temas atuais. Como ele tem uma certa dificuldade em digitar, grava suas ideias em um gravador para que sejam posteriormente escritas. 
Ao conhecer a jovem filipina Anya na lavanderia do condomínio, oferece-lhe o emprego de digitadora. Ela, que não trabalha, decide aceitar depois de conversar com seu parceiro, Alan, um investidor de sucesso.
Anya não apenas digita as ideias, mas questiona e opina também. Além disso, conversa com Alan e ambos tentam entender as opiniões do velho escritor. Nesse processo, todos vão deixando transparecer quem realmente são e, com isso, passam a enxergar o outro de uma forma diferente da que tinham até então.
É uma obra densa, que entrelaça em um mesmo capítulo trechos das opiniões do autor, dos seus pensamentos e dos pensamentos de Anya. Tudo ao mesmo tempo.
Temas como política, pedofilia, terrorismo, música, turismo e até pós-vida são tratados de forma direta, com suas afirmações e dúvidas, fazendo com que o leitor também seja obrigado a refletir e se revelar, assim como os personagens da trama.
O final é para fazer qualquer coração duro e insensível se desmanchar: lindo e comovente.

Vale a pena a leitura!

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