terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O tribunal da quinta-feira

Michel Laub
Companhia das Letras - 184 páginas

"Hoje é quinta-feira, e na retrospectiva dos últimos quatro dias o que me afetou de verdade não foi essa agressão inicial, nem a vingança pública e ruidosa promovida por Teca na sequência. Ou foi tudo isso..." (página 133)

José Victor é diretor de criação de uma agência de publicidade, tem 43 anos e nos conta como sua vida virou o caos, depois que sua ex-mulher Teca lê alguns e-mails dele e descobre sua traição com a redatora-júnior da agência.
Esses e-mails eram destinados à Walter, seu amigo de faculdade, soropositivo. Por serem amigos de longa tinham muita cumplicidade e, claro, tinham liberdade para trocar segredos e usar termos e palavras que só um melhor amigo entende, mas que fora de contexto podem ganhar outra dimensão.
Ao descobrir a traição, Teca divulga trechos dessas mensagens a um grupo de amigos e influenciadores,que disseminam toda sua raiva e rancor nas redes sociais.
A hipocrisia social é o destaque dessa narração, que coloca José como vítima do tribunal da vida e levanta questões relevantes nesses dias: até que ponto nossos segredos estão salvos num mundo que mergulha na falta de privacidade das redes sociais? O que faz alguém que comete falhas/pecados a apontar o dedo ao próximo sem considerar seus erros/pecados, apesar de serem diferentes? O que nos torna melhores que o próximo?

Achei algumas coincidências no livro: o narrador trabalha no 14º andar de uma agência de publicidade na Berrini. Eu, por anos, trabalhei no mesmo andar na mesma região, trabalhando com Marketing. Além disso, assim como o autor, tenho 43 anos e vivi a mesma época narrada por ele. Portanto ao falar da novidade da AIDS nos anos 80 e a morte de personalidades como Cazuza, Sandra Bréa, Caio Fernando e outros, voltei no tempo!

Boa leitura!

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