sábado, 8 de junho de 2024

O avesso da pele



Jeferson Tenório
Companhia das Letras - 192 páginas

"É necessário preservar o avesso. Preservar aquilo que ninguém vê. (...) Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos."
(Página 61)

Henrique e Marthinha são os pais do narrador e toda a história de suas vidas, especialmente a de Henrique será contada por seu filho, a partir do momento que ele recebe a notícia da morte do pai. Trata-se de uma narração recheada de dores, descobertas, alegrias (poucas) e muitas lutas.

Ao contar o dia a dia de um professor negro em Porto Alegre, o narrador nos mostra como o racismo vive à espreita, em qualquer canto ou situação: seja nas diversas abordagens policiais, seja nos relacionamentos ou no ambiente de trabalho. Nada escapa. E aí você pode reagir ou se acostumar e deixar pra lá, mas chega uma hora que cansa e se não escolher bem, arrisca sua própria vida.

"No sul do país, um corpo negro será sempre um corpo em risco." (pág 184)

O fato é essa narrativa vai e vem no tempo, se entrelaçando com a do próprio narrador, e vamos engolindo o choro em cada página, em cada fragmento da alma que vai se despedaçando com o tempo.

"A sua obra foram seus alunos, mesmo aqueles que nem se lembram de você. Sua obra foram suas aulas tristes. Suas aulas sérias, suas aulas apaixonadas. Eu queria ter morado num pensamento teu. Como uma forma de amor. Um amor entre pai e filhos." (pág 184)

Vejo como leitura obrigatória a todos que lutam por mais igualdade e equidade, por mais justiça.


Boa leitura!


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