Chimamanda Ngozi Adichie
Companhia das Letras - 234 páginas
"Havia emoções que Kamara queria segurar na palma da mão, mas que simplesmente não existiam mais..." (página 95)
Ano passado me emocionei com Americanah, livro de Chimamanda, que me cativou logo de cara. Agora, com a leitura dos 12 contos dessa obra não foi diferente: cada um carrega um pedacinho da Ifemelu de Americanah, mas de uma forma diferente, ampliada.
A vida nos Estados Unidos, vista como um sonho de consumo e de progresso para muitos nigerianos, aparece em alguns contos. Temos a esposa que mora no exterior, enquanto o marido passa alguns meses na Nigéria (em "Réplica"). A mudança foi feita para dar um futuro aos filhos, mas ao tomar conhecimento de uma possível traição do marido, Nkem revê sua vida e precisa tomar uma decisão. Temos também Kamara (em "Na segunda-feira da semana passada"), uma jovem babá que cuida de um menino de 7 anos, enquanto o pai trabalha fora e a mãe fica trancada no porão se dedicando às suas pinturas. E temos também (em "No seu pescoço") uma jovem que vai morar na casa do tio nos EUA e lá sente na pele a dor de se sentir estrangeira e sozinha, numa terra que a sufoca e a olha de forma diferente.
Em "Jumping Monkey Hill" temos um workshop de escritores africanos na Cidade do Cabo, o qual reúne grandes talentos. Nesse encontro, todos são estimulados a criar textos, os quais são compartilhados com o grupo.
Ujunwa é a nigeriana de Lagos, que cria uma história sobre uma moça que procura emprego e tem dificuldade de conseguir algo sem sofrer algum tipo de assédio. O organizador do encontro, que a havia assediado ao pegá-la no aeroporto, ri e diz: "Nunca é exatamente na vida real, não é? As mulheres nunca são vítimas dessa maneira tão grosseira, e certamente não na Nigéria." Ah, como não? Ujunwa reage de uma forma surpreendente e nos deixa com um nó na garganta.
"A Cela Um" se passa na Nigéria e fala da prisão de um jovem que cometeu pequenas infrações desde a adolescência e sempre teve a família ao seu lado, fazendo vistas grossas e arranjando desculpas para camuflar o problema. Um dia, porém, ele é pego em flagrante e vai parar numa prisão em outra cidade, sacrificando a vida dos pais e da irmã nas visitas diárias. Apesar da situação toda, ele estava bem, pois comia a comida da mãe e porque não estava na temida cela um. Até que algo acontece e é impossível você não sofrer junto, como se fizesse parte daquela família.
Cada conto é assim: simples na aparência e rico na essência. A dor do personagem passa a ser a sua, numa simbiose de sentimentos. Dá vontade de dar colo para alguns, enxugar as lágrimas e dizer "tá tudo bem. Você merece e terá algo melhor."
Vale a pena a leitura de cada um!
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