terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Vidas Desperdiçadas

Zygmunt Bauman (1925-2017)
Ed Zahar - 176 páginas

"Ser 'redundante' significa ser extranumerário, desnecessário, sem uso (...) Os outros não necessitam de você. Podem passar muito bem, e até melhor, sem você." (página 20)

Há cerca de 3 anos li Amor líquido e Medo líquido, que falam das relações humanas descartáveis e da ansiedade/medo da sociedade moderna. São obras que tem quase 20 anos, mas parecem que foram escritas hoje pela manhã, tamanha a relevância dos assuntos.
Agora, com Vidas Desperdiçadas, o autor aborda o tema do "refugo" humano, pessoas que não tem um papel útil naquele momento e se tornam um fardo para uma sociedade. 

"Os refugiados, os deslocados, as pessoas em busca de asilo, os migrantes, os sans papiers (clandestinos) constituem o refugo da globalização." (pág. 77)

Esse fardo pode até ajudar a desviar a atenção em situações de conflito, pois são as respostas que muitas autoridades têm para provar que se preocupam com o povo e querem o seu bem.

"A vulnerabilidade e a incerteza humanas são as principais razões de ser de todo poder político. E todo poder político deve cuidar da renovação regular de suas credenciais." (pág 67)

Estimula-se o medo, a ansiedade, a desconfiança com aquele que que não é dali, como se todos fossem potenciais usurpadores/terroristas. 

Além disso, o autor também aborda temas como a depressão da nova geração nascida no admirável e líquido mundo moderno e a transitoriedade universal da vida.

"Nada é necessário de fato, nada é insubstituível (...) os contratos não são assinados a menos que se fixe a sua duração ou que se permita serem anulados (...) A modernidade líquida é uma civilização do excesso, da superfluidade, do refugo e de sua remoção." (pág. 122)

Mas nem tudo está perdido, pois ele crê no papel benéfico das amizades:

"... amigos e amizades desempenham um papel vital em nossa sociedade tão individualizada." (pág. 155)

E reforça os aprendizados:

"Os dias importam tanto quanto e nada mais que a satisfação que se pode extrair deles. O prêmio que você pode esperar (...) é um hoje diferente, não um amanhã melhor."

"Não importa o que você faça, mantenha suas opções abertas." (pág 134-135)

"Esperar é uma vergonha..." (pág. 137)

"(...) manter-se em movimento importa mais que o destino." (pág.146)

E não para por aí, o autor fala de beleza, eternidade, relacionamentos, contatos virtuais, big brother... é uma riqueza de assuntos, todos interligados. Fico só imaginando como deveria ser uma tarde de prosa com Baunan, num café... ia ter assunto pra mais de metro!

Boa leitura :) 


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