sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Onde está Deus quando chega a dor?

Philip Yancey 
Editora Vida - 264 páginas

"Tudo muda no mundo de uma pessoa doente; ela precisa saber que sua amizade não mudou." (página 165)

Ganhei esse livro de uma super amiga no meu pior momento de dor esse ano: quando estava no meio de uma crise de artrite reumatoide, sem conseguir me mexer de tanta dor.
Ela, vendo meu sofrimento, não sabia mais o que fazer: um dia trazia bolachas com ingredientes anti-inflamatórios, em outro, algum tipo de artesanato e por aí afora. Mas, um dia ela trouxe esse livro, que só consegui ler recentemente, porque na época não conseguia segurá-lo. A dor não deixava.

E essa obra é maravilhosa: me enxerguei em cada linha, em cada questionamento, em cada grito de dor e em cada suspiro de esperança.

Ao falar da dor, o autor não só argumenta do por quê da existência da dor, como fala das diversas reações ao sofrimento e como enfrentar a dor. Por fim, fala da fé nesse processo todo: ela pode ajudar?

Yancey se debruçou sobre o assunto, ao conhecer e entrevistar pessoas que passaram - e que passam ainda - por dores terríveis, seja na alma, seja no corpo. Uma delas foi Joni Eareckson Tada, que ficou tetraplégica aos 17 anos depois de um mergulho na parte rasa do mar. Outra foi Brian Sternberg, um atleta de salto com vara que detinha o recorde mundial e caiu de uma altura de 3 metros, ficando igualmente tetraplégico. 
Duas histórias parecidas, mas com reações diferentes. Ambos sofreram muito com cirurgias e tratamentos, mas Joni seguiu a vida, virou pintora (sim, ela pinta quadros lindíssimos com a boca) e levou sua experiência de vida para diversos lugares como conferencista. "Depois de uma longa controvérsia com Deus, voltou-se para ele. Emergiu com força e maturidade espiritual capazes de inspirar milhões de pessoas.(...) ela "engradeceu" o sofrimento." (pág 127)
Brian, relutou em aceitar sua situação e, mesmo depois de mais de 20 anos, ainda acredita numa cura sobrenatural. "Ele apostou sua fé e praticamente sua teologia na esperança de cura."

O autor visitou também o leprosário de Carville, Louisiana, e entrevistou médicos e pacientes. Estes últimos, por não sentirem dor, acabam por perder partes do corpo em acidentes banais. A dor, aliás, mostra muitas vezes um alerta de que algo não está bem. Ela sinaliza o perigo que está próximo e aí vamos investigar para tratar. Quem não sente dor, não para pra ver e, nos relatos dos leprosos, muitos perderam membros com queimaduras, por exemplo, por não sentir o efeito do fogo no corpo.

O interessante é que cita a dor da artrite em várias situações, como algo que priva que o paciente de seus movimentos e ainda impõe um sofrimento terrível. Como portadora dessa doença, me vi em cada descrição e vi que não exagerou. Nas crises, a dor nos incapacita a fazer coisas banais, como escovar os dentes ou pentear os cabelos. 


"... não existe uma cura mágica para quem está sofrendo. Na verdade, é preciso amor, pois o amor instintivamente detecta o que é necessário." (página 156)

Na minha experiência foi exatamente assim: minha família e amigos não sabiam como agir, muitas vezes, mas como agiam com amor, sempre acertavam! Podia fazer uma lista de pessoas e situações, mas incentivo o leitor a pegar esse livro pra entender um pouquinho mais. Afinal, hoje podemos ajudar e consolar os que sofrem, amanhã pode ser a gente (como eu) que esteja nessa situação de vulnerabilidade e dor.

Boa leitura!