terça-feira, 27 de janeiro de 2015

As boas mulheres da China

Xinran
Companhia das Letras - 256 páginas

"Eu costumava sonhar que encontraria um jeito de lavar minha dor, mas será que posso lavar a minha vida? Posso lavar o meu passado e o meu futuro?" (Hongxue - página 40)

Graças a uma superamiga Stefanie Kung (minha chinesinha favorita!), pude ler essa obra incrível!

Durante oito anos (1989-1997), Xinran apresentou um programa de rádio noturno na China, voltado para as mulheres. Nesse período, ela ouviu muitos relatos de abuso, dor, humilhação e desespero e conseguiu abrir um espaço na programação para conversar a respeito.

Além disso, ela conheceu muitas dessas vítimas em suas visitas a campo e percebeu que o mundo não sabia nada dos horrores pelas quais milhares de mulheres havia passado na época da Revolução Cultural (1966-1976).

Nesse livro-denúncia, lemos relatos absurdos, como a de Hongxue, uma garota de 17 anos, que sofria abuso sexual do pai desde o início da adolescência e que preferia se machucar para ficar internada em um hospital, do que "viver" sendo humilhada. Ali, pelo menos, ela tinha a companhia de uma mosca, que a acariciava.

Conhecemos também o drama de Hua'er, violentada em nome da "reeducação" política e a história de uma catadora de lixo, que tem um filho político bem-sucedido, mas vive nas ruas por escolha própria.

Até mesmo diante de uma catástrofe, aconteceram atrocidades. Em 1976, houve um terremoto em Tangshan, que matou cerca de 300 mil pessoas. Yang perdeu seu filha de 14 anos, depois de 14 dias em que ela ficou pendurada nos escombros do prédio em que moravam. Já Xiao Ying, uma garota de 14 anos, ficou louca depois de ter sofrido um estupro coletivo. Sua mãe, Ding, ainda sofreu com o filho que perdeu as pernas e o marido que morreu de ataque cardíaco após tomar conhecimento do que aconteceu à filha.

São muitos os relatos de abuso de poder, tirania, maldade, crueldade na China das décadas de 60 e 70, sobretudo. Em nome da Revolução e da devoção ao Partido, muitas famílias foram destruídas e muita gente perdeu a esperança na humanidade.

"...minha casa é uma mera vitrina de objetos domésticos: não existe comunicação de verdade na família, não há sorrisos nem risos. Quando estamos só nós, tudo o que se ouve são os ruídos da existência animal: comer, beber e ir ao banheiro." (mulher que teve seu casamento arranjado pelo Partido - pág. 121)

"Quarenta e cinco anos de anseio constante por ele fizeram que minhas lágrimas formassem um lago de saudade." (Jingyi, mulher que foi separada do amor de sua vida e o esperou por 45 anos - pág. 158)

"Espero que o amor suavize os calos no seu coração, disse eu.(...)
Obrigada, disse dura, mas é muito melhor estar amortecida do que sentir dor."
(Xinran em conversa com Zhou Ting, mulher que foi traída, difamada e abandona por seu 2º marido)

"Os guardas vermelhos obrigaram Shilin (de 12 anos) a olhar pela janela enquanto interrogavam e torturavam a família Wang. Puxavam-lhe o cabelo e beliscavam as pálpebras para mantê-la acordada vários dias e noites..." (pág. 174)


Vale a pena a leitura, apesar das lágrimas.




3 comentários:

  1. Ana! Q livro forte, quanta dor e sofrimento... li a resenha agora, nunca ouvi falar.
    Obrigatório para quem trabalha ou se interessa por Direitos Humanos e pela questão do sofrimento.

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    1. Sim, é muito forte e imagino quantas histórias de vida reais seja bem piores que essas relatadas...

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  2. Ana! Q livro forte, quanta dor e sofrimento... li a resenha agora, nunca ouvi falar.
    Obrigatório para quem trabalha ou se interessa por Direitos Humanos e pela questão do sofrimento.

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