sábado, 13 de janeiro de 2018

Cada homem é uma raça

Mia Couto
Companhia das Letras - 200 páginas

"Foi essa instrução que ele me deu: lições de esperança quando já havia desfalecido o futuro." (página 30)

Esse é meu décimo livro do Mia Couto e, ainda não me cansei de me encantar com a melodia das suas palavras. Nesta obra, que possui 11 contos, não foi diferente. 

Tristeza, perda, dor, mistério, culpa, morte são elementos presentes nesses contos, os quais aparecem sempre de uma forma sublime, terna:

"Se desfez das lágrimas, para que outra coisa serve o verso das mãos?" (pág.15)

"... quando desembrulho minhas lembranças eu aprendo meus muitos idiomas. Nem assim me entendo..." (pág.29)

Os personagens são pequenos universos, que transbordam em suas particularidades: uma mulher corcunda que se dedica a cuidar de estátuas, uma viúva que passou a amar o marido de fato depois de morto, um vendedor de pássaros que desperta sentimentos por onde passa, um pescador cego e sua luta pra sobreviver, um barbeiro que atende debaixo de uma grande árvore e é vítima de uma brincadeira. Esses são só alguns, mas já dá para se ter uma ideia da fantasia e da magia que cercam cada um.

Para Mia, a vida sempre tem algo a nos revelar:

"Vivemos longe de nós, em distante fingimento. Desaparecemo-nos." (pág.97)

"(...) os olhos, janelas onde nossa alma se acende." (pág. 100)

"... acordar não é a simples passagem do sono para a vigília. É mais, um lentíssimo envelhecimento, cada despertar somando o cansaço da inteira humanidade. (...) a vida, ela toda, é um extenso nascimento." (pág. 129)

Vale a pena a leitura!

Obs: veja também a resenha de outras obras que li do Mia e amei!
Terra Sonâmbula, Antes de nascer o mundo, A varanda do frangipani, O outro pé da sereia, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, O último voo do flamingo