domingo, 8 de setembro de 2013

Sonetos para amar o amor

Luís Vaz de Camões (1524-1580)
L&PM Pocket - 82 páginas

"Se nela está minha alma transformada
Que mais deseja o corpo alcançar?" (página 16)

Quando estava no colegial, meu professor de literatura nos fez decorar os primeiros versos dos Lusíadas (*) e peguei certa birra por Camões.

Mas essa birra passou ao conhecer o famoso soneto:


"Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor
?" (pág 53)



Nos diversos sonetos selecionados para esta obra, Camões canta o amor e suas impossibilidades; a proximidade e a distância.

"De amor escrevo, de amor trato e vivo;
De amor me nasce amar sem ser amado (...)" (pág 71)

Canta também a dor: ele perdeu sua amada Dinamene em um naufrágio e fez um soneto comovente para ela.

Vale a pena a leitura!


(*)

As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda a parte

Se a tanto me ajudar o
engenho e arte.

Os Lusíadas (1572)
Canto I, 1-2
Obs: e ainda sei tudo isso de cor até hoje!     




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