Companhia das Letras - 208 páginas
"Lá, em minha aldeia, no sempre igual dos dias, o tempo nem existia..." (página 43)
Tudo começou com "O outro pé da sereia", o primeiro livro do Mia que li. De lá pra cá, só acumulei sonhos e encantamentos com as leituras de suas obras: Antes de nascer o mundo, A varanda do frangipani, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, O último voo do flamingo, entre outras.
Aqui temos duas histórias, que se entrelaçam e se misturam: o miúdo Muidinga e o velho Tuahir fogem da guerra por uma estrada morta, sem vida. Vão caminhando a esmo até que encontram um ônibus queimado e decidem se abrigar ali dentro. O que os distrai são os cadernos encontrados em uma mala, ao lado de um cadáver, próximos dali.
Cada caderno conta um pouco da vida de Kindzu, filho do pescador Taímo, que sai da sua aldeia para se tornar um naparama (um guerreiro de justiça).
"não é a estória que o fascina mas a alma que está nela." (pág.67)
Kindzu pega seu barco e navega mar adentro, sem rumo, até chegar em Matimati.
"olhei o fundo escuro da noite, lá onde o mar toca os pés de Deus." (pág. 42)
Muidinga não se lembra da sua infância, mas é grato ao velho por ter salvo sua vida e se tornado um segundo pai para ele. As leituras dos livros de Kindzu os mantém unidos, vivos, próximos, apesar da fome, das dores e das dificuldades que enfrentam pra sobreviver.
"a dor, afinal, é uma janela por onde a morte nos espreita." (pág.68)
Em Matimati, Kindzu assume uma nova missão: achar Gaspar, filho de Farida, seu amor que mora em um navio encalhado num banco de areia.
"...nenhum rio separa, antes costura os destinos dos viventes." (pág. 87)
Não conto mais pra não estragar as surpresas.
Fantasia, lirismo, sonho, poesia e muitas alegorias marcam as obras de Mia, que tem o dom de te envolver do começo ao fim.
"Afinal, no meio da vida sempre se faz a inexistente conta: temos mais ontens ou mais amanhãs?" (pág. 135)
Boa leitura!
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