Milan Kundera
Companhia das Letras - 264 páginas
"Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos pressentir ou adivinhar o que estamos vivendo. Só mais tarde, quando a venda é retirada e examinamos o passado, percebemos o que vivemos e compreendemos o sentido do que se passou..." (página 11)
Kundera nos presenteia com 7 contos deliciosos, que se desenvolvem a partir de uma brincadeira ou mal-entendido e evoluem para desfechos inesperados. Logo de cara, percebi traços de A Brincadeira, que tem o mesmo mote, mas com consequências mais desastrosas.
O conto que mais gostei foi O jogo da carona: um casal de namorados brincam que não se conhecem e ele oferece uma carona para sua namorada-desconhecida. A partir daí, um vai descobrindo traços da personalidade e comportamento do outro, que jamais sonharam imaginar.
Em Ninguém vai rir, um professor universitário recebe uma carta elogiosa ao seu trabalho e pede para que escreva um parecer crítico a uma determinada revista, que recusava publicar um estudo de seu admirador, um tal de Zaturecky. A recusa em escrever essa crítica, já que achara o estudo ruim, e o fato de evitar o contato com Zaturecky transformam a vida pessoal e profissional do professor de tal forma, que ele vê num beco sem saída.
O último conto, Eduardo e Deus, conta o dilema de um jovem apaixonado por uma garota religiosa, que começa a frequentar a igreja para se aproximar mais dela. Porém, esse gesto, é interpretado como uma afronta ao regime comunista onde vive e Eduardo precisa se explicar na escola onde leciona o motivo de sua religiosidade.
"Se eu não pensasse que vivo para alguma coisa maior do que minha própria vida, sem dúvida seria incapaz de viver." (pág. 215)
Kundera não tem pudor em mostrar as contradições da vida e dos nossos sentimentos. Ele questiona o comportamento humano e suas motivações e, mesmo que a situação seja desastrosa ou crítica, ele ainda acha uma brecha para o humor e o riso.
Vale a pena a leitura!
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