Ted Chiang
Ed Intrínseca - 368 páginas
"Conquisto anos de educação a cada semana(...) Vejo a tapeçaria do conhecimento humano de uma perspectiva mais ampla do que qualquer pessoa já foi capaz; posso preencher lacunas em locais em que os estudiosos sequer notaram um vazio..." (página 71)
Imagine que após um acidente com um terrível dano cerebral, você se recupere e ainda ganhe várias sinapses. E não só isso, imagine que você comece a ter uma compreensão melhor do funcionamento das coisas e de si próprio, a ponto de dominar seus sentidos e emoções. Algo tão surreal assim aconteceu com Leon, após ser tratado com o hormônio K, depois de um terrível acidente, que o deixou vegetando.
Sua inteligência foi se aprimorando com as injeções, a ponto dele conseguir entender e prever situações, apenas estando atento ao comportamento de cada célula de seu corpo e das pessoas ao redor. Por isso, ele se tornou conhecido no meio médico e viu que seu destino era ser estudado por meio de testes e mais testes. Isso o deixou sem perspectivas e, então, ele decidiu fugir. O que vai acontecer a partir daí, só lendo o conto todo ("Entenda"), que, aliás, vai te prender do começo ao fim.
Os demais contos também são de pura ficção científica. Em "A Torre da Babilônia" temos uma torre que chega no céu e cuja subida demora de 1 mês e meio a 4 meses. Hillalum decide subir até o topo para cavar (sim, por mais paradoxal que seja) e descobrir o que tem além da abóboda. Sua subida é uma epopeia e, claro, ele vai descobrir o que há lá da forma mais assustadora possível.
Em "Divisão por zero" conhecemos Renee, uma professora de matemática que sempre amou a exatidão dos teoremas, até descobrir uma contradição num estudo. Como isso seria possível? Seu marido, professor de biologia, tenta ajudá-la, mas até ele encontra dificuldades em ter acesso ao "eu" da sua esposa, que chega ao ponto de cometer algo terrível em nome da agonia resultante dessa contradição.
O conto que dá nome ao livro e virou filme, fala da doutora Banks, uma linguista que veio a conhecer dois alienígenas, interagiu com eles e conseguiu aprender a mecânica da linguagem oral e escrita. Linguagem esta que muda a forma de ver a vida e a linearidade dos acontecimentos. Por isso, temos a narração do aprendizado de Banks ao lado da narração de eventos passados-futuros de sua vida pessoal.
Os outros contos falam de autômatos ("Setenta e duas letras"), anjos que caem do céu e deixam o inferno visível embaixo de nossos pés ("O Inferno é a ausência de Deus"), e de um mundo onde seja possível desligar a percepção de beleza humana (em "Gostando do que vê: um documentário"). Neste, várias pessoas dão seus depoimentos pró e contra a esse artifício,que vão do fim do bullying infantil para pessoas consideradas feias até a falta de criatividade por não se conhecer o belo como elemento primordial numa criação artística.
Enfim, todos os contos tem elementos que fogem da realidade e as transformam no céu ou no inferno, dependendo da forma como as conduzimos.
Leitura obrigatória para os amantes do gênero!
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