sábado, 1 de novembro de 2025

O Totem da paz


Don Richardson
Editora Betânia - 336 páginas

" Tuan, não vá para junto dos sawis. Eles matam as pessoas e as devoram." (página 122)

Esse livro não é para os fracos não...

Precisa coragem pra ler sem sentir arrepios na espinha em cada página.

Trata-se da experiência missionária de Don Richardson e sua esposa Carol entre o povo Sawi, uma tribo na região que hoje corresponde a parte da Papua (Indonésia, então Nova Guiné Holandesa).
Eles foram para lá em 1962 para viver entre os Sawis, aprender seu idioma e cultura, e levar a mensagem de salvação em Jesus. Detalhe: foram com o filhinho de 7 meses no meio de um povo que era canibal.

Os problemas enfrentados foram vários: desde o idioma complexo (com cerca de 19 tempos verbais) até a hostilidade que era algo cultivado com se fosse uma virtude! Na tradição dos Sawis, a traição era vista como uma virtude — “engordar com amizade para depois fazer a matança” (pág 11). Ou seja, a traição era o máximo e a pregação do evangelho não fazia sentido, uma vez que viam Jesus como fraco e Judas Iscariotes como o herói que trai. O sacrifício de Jesus na cruz não era algo fácil de se explicar e, muito menos, de se entender.

"A criança sawi é treinada para conseguir tudo o que deseja simplesmente pela força da violência ou de acessos de cólera. Ela é constantemente encorajada a "vingar-se" a cada vez que é insultada ou magoada." (pág 205)

Don tinha a percepção de que tinha que encontrar alguma ponte cultural para explicar o cerne do cristianismo. Sem isso, não iriam entender sua mensagem.

A “virada” veio quando ele testemunhou um ritual entre tribos guerreiras, onde um menino era entregue por uma tribo à outra como símbolo da paz — esse menino era o “filho da paz” e deveria ser criado pela outra família.

Richardson, então, reinterpretou o evangelho dizendo: “Jesus é o Filho da Paz que Deus deu, para reconciliar inimigos — Ele foi entregue, aceito, e assim trouxe paz.” Ao usar esse paralelo, os Sawis deixaram de ver Jesus como vítima ou fraco, e começaram a vê-lo como aquele que realmente trouxe paz a todos que o convidam a fazer parte da sua vida.

Há muitos detalhes no livro da cultura, dos rituais, das guerras etc, mas vou deixar para que você leia e conheça mais desse casal corajoso e cheio de fé em Jesus.

Vale a pena a leitura!


 

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A cirurgiã


Leslie Wolfe
Faro Editorial - 224 páginas

"Em algum lugar, a alguns quilômetros ao sul dali, o corpo de um homem está em uma maca no necrotério. Fui eu que o coloquei lá?"
(página 32)

A dra Anne Wiley é uma cirurgiã cardíaca que nunca perdeu um paciente. Inclusive por causa disso, se tornou a garota do coração, na mídia de outdoor do hospital. Casada com um advogado (Derreck), demonstrava viver uma vida perfeita e invejável. 
Até que ela perde um paciente numa cirurgia nem tão difícil e sua vida vira de ponta cabeça!

Como ela foi perder aquele paciente? O que deu de errado? Ela teria contribuído de alguma forma para que o final fosse esse?

O pior é que ela começou a ser investigada por Paula Fuselier, uma procuradora ambiciosa, que a quer ver presa de qualquer jeito. Ela teria algum motivo pra isso?

Os capítulos intercalam os momentos de Anne e de Paula, entrelaçando as duas histórias de uma forma tensa e cheia de surpresas.

Vale a pena a leitura!

domingo, 24 de agosto de 2025

É assim que começa

Colleen Hoover
Editora Record - 336 páginas

" Toda pessoa que já deixou um cônjuge manipulador e abusivo e conseguiu se manter longe dele merece uma medalha. Uma estátua. Um filme de super-herói..." (página 119)

Um dos maiores erros que existe na literatura é a continuação de um livro porque as pessoas pedem. Gente, esse livro nasceu por causa disse e, pra mim, pareceu tão artificial!

Li de teimosia, mas é aquilo que você acha: a reaproximação de Lily e Atlas, permeada pelo medo das reações de Ryle.

Claro, pra não cansar, Atlas descobre algo da sua família e tenta resolver da melhor possível, afinal ele é perfeito demais!

Desculpe, mas a trama dava pra ser contata em menos de 100 páginas e não trouxe novidade alguma.

Se puder, passe e fique no primeiro livro só (mesmo porque sempre é melhor imaginar o "felizes para sempre" do que ler depois e se decepcionar com tanto chavão ou situações improváveis).

sábado, 22 de março de 2025

É assim que acaba


Collen Hoover
Editora Record - 368 páginas

"Começo a balançar a cabeça, querendo esquecer os últimos quinze segundos. Quinze segundos. Só isso já basta para mudar completamente tudo sobre uma pessoa." (página 185)

Lily Bloom é uma jovem de 23 anos que acabou de enterrar o pai, e se encontra no parapeito de um edifício alto, pensando na morte, quando tem seus devaneios interrompidos por um estranho, que chega bravo, chutando uma cadeira. Ele é o neurocirurgião Ryle Kincaid e, logo de cara, rola um clima entre eles, mas nada acontece, apenas um diálogo onde eles dividem verdades nuas e cruas. O reencontro e paixão vai ocorrer depois.

Primeiro assisti ao filme e, por ter gostado e visto toda a repercussão das brigas entre os atores principais, decidi ler o livro também.

Obviamente, tem muita coisa diferente, a começar do local onde Lily vive: aqui ela divide um apartamento com uma amiga, que nem aparece no filme. Além disso, Lily tem um diário, onde ela escreve para uma Ellen DeGeneris fictícia, contando detalhes de sua vida e lembrando fatos do seu programa. No filme, ela é sequer citada.

Um fato interessante no filme é que Lily é interpretada pela estonteante Blake Lively, no auge dos seus 37 anos, então muitos dos conflitos e dúvidas juvenis de Lily não combinam muito bem. Até não entendo o porquê da escolha dela, não desmerecendo seu talento, mas pela idade da personagem mesmo. E ainda teve todo o lance do climão pós filmagem entre ela e o Justin Baldoni (Ryle)... Enfim, Lily é mais jovem que Blake e está em busca de seu espaço, ao abrir uma floricultura em Boston.

A coincidência da irmã de Ryle querer trabalhar na floricultura de Lily, apesar dela ser rica e ter de tudo, é estranha no filme e no livro, mas aqui dá pra perceber como a amizade entre as duas cresceu a tal ponto, de se amarem como irmãs. Allysa é o porto seguro de Lily no trabalho e na vida pessoal. Ela não é uma coadjuvante como parece ser no filme.

E, claro, ainda tem Atlas Corrigan, o "sem teto" que foi a paixão de Lily na adolescência e acabou sumindo depois de conseguir ir morar com um tio em outra cidade. Aqui temos mais detalhes da história de Atlas e o ator Brandon Sklenar super encorporou o personagem.

O tema da violência contra a mulher é tratado sob 2 ângulos: um com um pai que bebia e descontava na esposa e outro que, depois de sofrer um trauma na infância, passou a agir assim em algumas situações específicas. Em ambos os casos, não há justificativa pra qualquer tipo de violência, ainda mais dentro de casa, com sua esposa. As reflexões que Lily faz são pertinentes demais, especialmente pra quem viveu/vive algo similar em casa, uma vez que podemos ser tentadas a justificar, relevar, seguir em frente para que nossos filhos tenham um teto pra morar, custe o que custar. Mas será que essa é a única saída nessas situações?

Vale a pena a leitura!

domingo, 23 de fevereiro de 2025

A paciente silenciosa


Alex Michaelides 
Editora Record - 364 páginas


"Isso aqui vai ser um registro prazeroso de ideias e imagens que me inspiram artisticamente, coisas que têm algum impacto criativo em mim. Nada de ideias malucas."(página 11)

É através do diário de Alicia Berenson, uma pintora famosa, e do relato do seu psicoterapeuta Theo Faber que vamos nos inteirando do que aconteceu naquele fatídico dia 25 de Agosto, quando Gabriel, um renomado fotógrafo de moda, foi assassinado em casa e a culpa recaiu sobre Alicia, sua esposa.

Como ela não confessou e nem falou nada desde o começo, foi julgada, de certa forma, como louca, e levada a um hospital psiquiátrico judiciário em Londres.

Seus quadros ficaram valorizados e o último que ela pintou, logo após o assassinato, ganhou o nome de Alceste, nome da heroína de um mito grego, e representava um mistério: haveria alguma mensagem oculta naquela obra?

Ela estava internada há cerca de 6 anos, quando surgiu uma vaga de psicoterapeuta e Theo foi escolhido para ocupar a cadeira. Seu objetivo era se aproximar dela e tentar fazê-la falar, afinal o que de fato aconteceu naquele dia? Ele tem certeza que é a pessoa certa pra fazê-la falar, mas será que ele está pronto para o que está por vir?

Essa obra é um thriller maravilhoso, cheio de surpresas, que te prende do começo ao fim, pois vamos nos envolvendo com o dia a dia do hospital e conhecendo mais da vida da pintora antes da tragédia pelo diário. 

Vale a pena a leitura!



sábado, 11 de janeiro de 2025

O segredo entre nós


Thrity Umrigar
344 páginas - Globo Livros

"Embora esteja amanhecendo, o interior do coração de Bhima está na penumbra."
(
página 9)

Há 16 anos conheci Bhima em A distância entre nós e quando soube dessa continuação, não pensei duas vezes em ler, afinal ela tinha acabado de perder seu emprego de empregada doméstica na casa dos Dubash e estava sem perspectiva alguma de como seria sua vida sem aquela "ajuda", ainda mais com os estudos da neta.

Mas o destino colocou Parvati em sua vida: uma mulher mais velha, doente e amarga, que foi vendida pelo pai pelo preço de uma vaca e ganha a vida vendendo couve- flor murcha na feira. Por saber fazer contas, ler e ter tino para o negócio, acabou se unindo a Bhima numa sociedade: uma ajudando a outra em suas deficiências e carências. 

Parvati não tem o gênio fácil, age por impulso e mostra uma certa ignorância, mas ao conhecermos um pouco da sua vida, da forma como se deu seu casamento com Rajesh, de como foi tratada desde a adolescência e como sobrevivia, começamos a entender um pouco de onde vem tanta amargura e falta de confiança.

"Será essa a maldição especial das mulheres, guardar segredos? (...) São nossos segredos que nos definem."(pág 279)

"Se pudesse tirar o medo da minha vida, arrancá-lo, como eu seria? Como seria viver o agora e deixar o futuro permanecer no porvir?" (pág 281)

Entre dores, desafios, doenças e poucas alegrias, esses duas mulheres criam uma amizade improvável e conseguem se ajudar nos seus segredos, gerando um final lindo e emocionante.

Vale a pena a leitura!

domingo, 11 de agosto de 2024

Herdeiras do mar


Mary Lynn Bracht
Editora Paralela - 304 páginas

"Presenciar a morte de alguém é uma coisa estranha e assustadora. Em um momento a pessoa está lá, respirando, pensando, cheia de gestos, e então, no momento seguinte, não há mais nada." (página 101)

Hana é uma jovem de 16 anos que vive na Ilha de Jeju com sua família e colabora no sustento da casa como haenyeo , ou seja, uma mulher do mar, que mergulha diariamente para encontrar moluscos e vender na feira. Ela e a mãe acordam cedo e vão para o mar, o pai vai pescar e a irmã caçula (Emiko), fica na praia cuidando das coisas e evitando predadores.

A Coreia está sob a Ocupação japonesa há alguns anos e Hana teve que aprender a língua, além de tomar certos cuidados, pois a 2a Guerra estava em curso e não poupava ninguém.

Um dia, quando voltou pra pegar ar enquanto mergulhava, ela viu algo que a fez tremer: um soldado japonês estava indo na direção da sua irmã na praia, apesar de naquele momento ele não ter ângulo para vê-la. E então Hana nada o mais rápido que pode para proteger a irmã e evitar o pior. Ela consegue chegar na praia e desviar a atenção para si, mas acabou sendo capturada pelos japoneses e levada para a Manchúria.

A partir daí, passamos a conhecer um pouco do que foi a realidade para mais de 50 mil coreanas na guerra, quando foram forçadas a se tornarem mulheres de consolo”, servindo aos soldados e oficiais japoneses em condições degradantes e desumanas.

Mary Lynn Bracht não poupa detalhes na dureza da vida dessas mulheres e intercala os capítulos narrando a vida de Hana e de Emi, no passado e no presente. É uma leitura difícil, dura e indigesta, mas que trouxe informações que eu desconhecia até então.

Vale a pena a leitura!