quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Partitura do Adeus

Pascal Mercier
Record - 180 páginas

"...quando os olhares dos outros recaem sobre nós, é sempre cruel, mesmo com boa vontade. Eles nos transformam em protagonistas. Não podemos ser nós mesmos..." (página 85)


Martiijn van Vliet trabalhava em uma faculdade, na área de pesquisa em medicina cibernética, e desfrutava de grande reputação junto à administração e aos patrocinadores. Ficou viúvo cedo: sua filha Lea tinha apenas 7 anos e, obviamente, sentiu muito a perda da mãe Cécile, que morrera vítima de leucemia.

Um ano depois, numa estação de trem em Berna, Lea ouviu o som de um violino e arrastou o pai até o local: uma moça (Loyola de Cólon) tocava, de olhos fechados, a “Partita em mi maior” de Bach.

Algo nela mudou, foi despertado. Seus olhos voltaram a brilhar e sua vida, a partir desse dia, nunca mais seria a mesma: ela iria aprender a tocar violino e dedicaria todo seu ser em se aprimorar nisso.

“...ao tocar ela se embrenhava em uma paixão sagrada que a fazia perder o fôlego. Isso seria como tocar as estrelas.” (pág. 40)

Quem nos conta a história de Lea e van Vliet é Adrian Herzog, um médico cirurgião que abandonou a profissão por não se achar mais capaz de seguir adiante. Um dia, estando ele num café em Provence, conhece van Vliet e, ao descobrir que são de Berna e que estão indo para o mesmo destino, decidem voltar juntos.

“[Eram] dois analfabetos no que diz respeito à proximidade e à distância [...], dois analfabetos da confiança e da estranheza.” (pág. 51)

Adrian também foi casado e teve uma filha, Leslie, cujo relacionamento sempre foi distante, especialmente quando ela foi para o internato após o divórcio dos pais. Ele também tem uma história de culpa e dor que vamos conhecer, mas nada que se compare à de van Vliet: uma história trágica, que é um verdadeiro soco no estômago.

Boa leitura!


domingo, 13 de abril de 2014

Pecados Intocáveis

Jerry Bridges
Vida Nova - 173 páginas

"...cada novo cristão foi separado por Deus e para Deus a fim de ser transformado à imagem de seu Filho, Jesus Cristo." (pág. 13)

Sabe aquele "pecadinho" que você cuida, alimenta e dá abrigo todos os dias? Não?! Então, leia esse livro.
Todos nós fazemos coisas que não nos orgulhamos - ou, pelo menos, não deveríamos - e deixamos passar batido.

Pode ser uma mania de reclamar de tudo ou de julgar a todos. Pode estar baseado no orgulho, na insatisfação, na ansiedade, na imoralidade, na inveja, entre outros "pecados sutis". Mas todos eles desagradam a Deus.

De uma forma leve e objetiva, o autor dá exemplos de como o pecado se manifesta em diversas situações e como encontramos desculpas e justificativas para mantê-lo por perto.

Precisamos da direção de Deus e de muita humildade para reconhecer em nós muitos desses pecados.

"O Espírito Santo trabalha em nós para nos convencer e nos fazer cientes dos pecados sutis. Ele trabalha em nós para nos capacitar a matar esses pecados." (pág. 44)

Não existe uma receita pronta, mas se nos voltarmos a Deus em oração e se estivermos dispostos a reconhecer nossos erros, estaremos no caminho certo.

Quer um começo?

"Pregue o evangelho a você mesmo todos os dias."
(página 36)

E seja agradecido!
"...o coração agradecido é uma característica da vida cheia do Espírito." (pág. 82)

Boa leitura!

terça-feira, 8 de abril de 2014

Miserere

Adélia Prado
Record - 90 páginas

"Tão lírica minha vida, / difícil perceber onde sofri." 
(página 25 - in "Pingentes de citrino")

Já disse que ler Adélia é um ato sublime, quando escrevi sobre Bagagem. Mas não é só isso: ler Adélia é se ler, se descobrir. É se espantar com a sensibilidade que aflora com suas palavras, suas provocações.

Seus temas indagam, questionam, polemizam sobre o envelhecimento, as dores, as perdas, a morte, a saudade, a natureza, a religiosidade, a nossa humanidade. 

"Demoro a aprender / que a linha reta é puro desconforto. / Sou curva, mista e quebrada, / sou humana." [pág. 10 - in "Branca de Neve"]

"A alma se desespera, / mas o corpo é humilde; / ainda que demore, / mesmo que não coma, / dorme."[pág. 19 - in "Humano"]

A vida é finita, mas é plena; é difícil, mas encontramos alívio no caminho ao clamarmos a Deus.

"Necessito pouco de tudo, / já é plena a vida..."
[pág. 89 - in "Qualquer coisa que brilhe"]

"Ao minuto de gozo do que chamamos Deus,/ fazer silêncio ainda é ruído."
[pág. 85 - in "Num jardim japonês"]

Boa leitura! 


 


terça-feira, 1 de abril de 2014

Tempo de Boas Preces

Yiyun Li
Nova Fronteira - 236 páginas

"Aquelas pessoas haviam nascido para ser elas mesmas, ingênuas e satisfeitas com a própria ingenuidade." (página 86)

O livro de estreia dessa autora chinesa é pura sensibilidade!
Nele encontramos 10 contos ambientados na China comunista e não dá vontade de parar de ler...

Ela aborda temas universais: relacionamento entre pais e filhos ("Ser filho de alguém é uma tarefa difícil, um cargo que não se pode abandonar"), homossexualismo, dificuldades financeiras, perdas. E mais perdas...

A questão é que não estamos no Ocidente e toda a educação é voltada para honrar e adorar o "Nosso Pai, Nosso Salvador, Estrela do Norte de Nossas Vidas, o Sol de Nossa Era que Nunca se Põe" (página 53). Qualquer ação que seja considerada suspeita e desrespeitosa é tratada com castigos, perda do emprego, prisão, isolamento ou morte.

A tristeza e a dor de não poder existir como se é, aparecem em cada conto: seja na casa daquela família que tem uma filha doente mental e esconde isso dos vizinhos, seja para o garoto que é sósia do ditador e passa a viver em função disso.

Por fim, a autora escreve um caso verídico, chocante ao extremo, que deixa um nó na garganta e muitas lágrimas pelo caminho.

Vale a pena a leitura!